18.8.07

Ser ou não ser engenheiro: uma questão de colocação social

Estudioso amador da filosofia portuguesa e deixando num blog algumas notas esparsas sobre as ainda dispersas leituras, encontrei ontem, ao sair do barbeiro, imagine-se!, numa livraria que devia frequentar mais, uma colectânea de artigos, conferências discursos e cartas da autoria do filósofo portuense Leonardo Coimbra. Compilou tudo, com devoção e humildade, Pinharanda Gomes que nesse paciente trabalho mostra como é um grande homem, ao encarregar-se destes trabalhos que outros considerariam menores. Editou-o a Fundação Lusíada.
Hoje, sábado de tarde, deixei-me ficar por casa, depois de algumas surtidas utilitárias à chamada «rua», com o desejo de escrever e a vontade de ler.
Fui então dar uma espreitadela ao livro, folheando-o, como é por vezes meu hábito, de trás para a frente.
As últimas páginas são dedidacas à conversão ao catolicismo daquele que viveu uma vida inteira como se sem Deus e de quem Deus parecia ter-se esquecido ao condenar-lhe um filho a uma grave doença quase fatal; conversão a que se seguiria a morte a curto trecho.
Mas não foi por aí que me fiquei.
Revirando folhas, dei com este momento histórico. Vejam só as malhas que o acaso tece.
Como se pode ver melhor aqui «em 1924, a lei n.º 1638, de 23 de Julho, veio conferir o título de engenheiro auxiliar aos diplomados pelos institutos industriais e incluindo os condutores nessa designação. A reacção dos engenheiros não tardou. Os alunos do IST mobilizaram-se numa greve académica, cujos efeitos, prolongando-se para lá do golpe militar de 28 de Maio de 1926, conduziram à efectiva protecção legal do título de engenheiro em exclusivo para os diplomados pelas escolas de ensino superior e conferindo o título de agente técnico de engenharia aos antigos condutores e aos diplomados pelos institutos industriais».
Ora foi neste ambiente de insurreição entre engenheiros e agentes técnicos que num opúsculo sem data intitulado «Aos legisladores da República Portuguesa», consignou o seguinte parecer: «concordo plenamente com tudo o que seja marcar pelo seu verdadeiro nome cada indivíduo e cada profissão. A ordem nas sociedades depende da boa colocação social de cada competência e o lugar social da competência é marcado por um título ou diploma. Eis pois porque vos dou razão».
Não pensem que fiz de propósito! Estou inocente! A vida e os seus ensinamentos é que vieram ao meu encontro. Juro!