24.9.08

Portugueses, e o amor?

Não é diletantismo, mas deixei de estar a par de assuntos correntes. Há factos, porém, que despertam uma qualquer campainha no portão da atenção. Assim sucedeu este começo de manhã, porque o meu despertador se enganou nas horas e não viu que ainda era de noite.
Acordado que estava, fui fazer o que não fazia há muito, ver a imprensa on line. Sob o título «Mortes superam os nascimentos» o Diário de Notícias dava conta do que é a inversão da razão demográfica, o que «em termos técnicos, significa que a nossa taxa de crescimento natural é negativa (-0,01%)».
Ora um homem acorda com a doçura de um despertador, lê o DN e obviamente precipita-se para o lugar onde despertou com o dever social e patriótico de fazer gente.
Com uma notícia destas, nasce pela certa um movimento cívico, uma outra esperança nova! Portuguesas e Portugueses, hoje, amanhã e sempre, que os vossos serões tenham um destino! A oficial RTP que mude a programação, já não cantando loas noticiososas à senhora governação, mas entre a seguir ao jantar com filmes animadores, educativos, de bolinha no canto do écran, instigando ao acto. Recolhidas mais cedo as criancinhas, entre suspiros de alegria, os papás de Portugal, antes de se virarem as costas, darão novos mundos ao mundo.
Há só um particular que pode dar confusão. Diz o jornal que já foi o de Augusto de Castro e de José Saramago: «Portugal já hoje cresce à custa dos imigrantes, sobretudo africanos. Em 2007, a percentagem de filhos nascidos de casais mistos foi de 11,8%, mais três pontos que em 2002» e a propósito subtitula: «Mais velhos, mais escuros». Atenção, pois! Quando estiverem no auge do amplexo criador, quase em vias de lançar no ventre vivificador as sementes de novos lusitanos, acendam a luz. O DN agradece. Entretanto aqui fica o meu contributo musical, só para criar ambiente.

9.9.08

Angola a votos

Nasci em Angola, mas perdi o contacto com aquela minha terra. Os horrores da guerra conheci-os em 1961, por terem começado na Baixa de Cassange e eu morar em Malanje. Lembro-me da chegada dos primeiros caçadores especiais, lembro os belgas em fuga, lembro as primeiras matanças, de um lado e do outro. Talvez tenha sofrido relativamente pouco, apenas o terror, as noites espavoridas, nunca vi a violência diante dos olhos, apenas dentro da cabeça. Cada vez aprendo mais que nunca as nossas dores são tantas quanto as dos que verdadeiramente sofrem. É uma imodéstia do eu julgarmo-nos doridos.
Mas não era sobre isto que queria escrever, sim sobre ter ouvido há uns dias, na rádio, a deputada europeia Ana Gomes a vociferar contra o modo como haviam decorrido as eleições em Angola e ter ouvido, acho que um dia depois, a representante da Eurolândia e mais um pouco toda a gente, incluindo o nosso Presidente da República, a cumprimentar José Eduardo dos Santos pelo exemplo de democracia e de Ana Gomes não ter ouvido mais nada. Ana Gomes tem um blog onde tem escrito agora apenas Vital Moreira. O seu último post foi a cumprimentar Paulo Pedroso, o anterior sobre «a lasca do Alasca». Está aqui. Tudo isto que eu escrevo talvez faça sentido. É de facto triste que faça.