28.4.10

E que tal mudarem de nome?

«Juros da dívida portuguesa já superam os dos gregos quando pediram ajuda», reza o Público, em título. Com o novo líder do PSD a seu lado o primeiro-ministro «antecipa 'cortes' nas prestações sociais» esclarece o DN. Eis o bloco central a resolver a crise dos ricos com o ataque aos pobres. Chama-se a isto um governo socialista apoiado por uma oposição social-democrata. Como se nota, claro!

27.4.10

Esta noite o País está só

O País levou esta tarde um abanão financeiro tão forte quanto um sismo. A cotação do Estado português foi degradada para níveis próximos do alerta total. A cotação de cinco maiores bancos degradada foi em consequência.
Discutível que seja, a verdade é que os responsáveis internacionais convergem na ideia de que Portugal se aproxima da banca rota.
O triunfo das finanças sobre a economia, a geração de riqueza virtual e como tal especulativa, o ilimitado crédito, a demagogia governamental, a generalização do materialismo consumista, eis a receita explosiva.
Esta noite o primeiro-ministro, se tivesse o sentido da responsabilidade tinha aparecido na TV a dar a cara. Não esteve. Ele sabe que já não incute qualquer confiança. O demagógico e irresponsável discurso do optimismo balofo deu isto. Ele sabe que a aparecer seria motivo de desconfiança. Por isso esconde-se. O Presidente da República calado está. O País esta noite está sozinho a assistir à chegada do desastre. Portugal está à deriva.

26.4.10

Mente-se por medo

Nos círculos do poder murmura-se que o País atravessa uma situação altamente perigosa. O Presidente da República fala em «dúvidas quanto ao futuro do País». A possibilidade de Portugal abrir falência é afirmada já na praça pública internacional, na boca de responsáveis ligados à finança internacional. De há muito que se sabia. Medina Carreira tem-se farto de o dizer. Acusam-no de pessimista. É mais fácil fingir que se está bem ante a vergonha de se estar péssimo. Os Estados como as pessoas. Mentem.

24.4.10

Amanhã é o dia 25 de Abril

Comemora-se amanhã mais um 25 de Abril. Cada um comemora o seu. Muitos dos que estavam pesarosos e apreensivos nesse dia em 1974 comemorarão agora os seus actuais dias de contentamento e bem-estar porque, vistas as coisas, nada lhes aconteceu durante ou tudo se recuperou depois. Estão bem na vida ao lado dos novos ricos que a Revolução fabricou e que o sector público sustenta.
Ao Alentejo dos latifundiários sucede o Alentejo dos mesmos latifundiários, mais os montes e suas piscinas dos citadinos burguesas exibicionistas.
A questão são os que se alegraram naquela pálida madrugada, os que acreditaram e afinal se iludiram. Os que foram enganados. Os que erraram no caminho.
Morre-se hoje de tristeza em Portugal.
Tristeza pela paródia em que a democracia se tornou, prisioneira dos partidos que se entrincheiraram no Governo, estes ao seviço de interesses questionáveis. Tristeza pela bancarrota que se aproxima. Tristeza pelo baixo nível da classe dirigente. Tristeza pelo banditismo, pela insegurança, pela rapina. Tristeza porque o Estado está à mercê de negociatas. Tristeza porque estão no poder pessoas a quem nenhuma empresa inteligente daria emprego. Tristeza pelo aviltamento da autoridade nas ruas, nas famílias, nas escolas.
Tristeza porque nunca o povo consumiu tanta alarvice nunca a cultura tão sustentada. Tristeza quando se liga a televisão, tristeza quando se ouvem conversas de rua.
Tristeza porque já ninguém quer saber de coisa alguma, todos acham que todos aldrabam, todos querem o quinhão que conseguem os aldrabões.
Tristeza pelas fábricas falidas, pelo comércio arruinado, pelas famílias endividadas até às orelhas, a viverem do crédito e do calote.
Comemora-se amanhã o dia 25 de Abril. Cada um comemora o seu.
Das catacumbas da portugalidade haverá seguramente os que pensam na agonia que tudo isto lhes causa e se perguntam como se fabricam bombas. Ante a miséria da Pátria o País tem direito à revolta, à Nação exige-se-lhe a Revolução. Está em causa a sobrevivência de Portugal.
Somos o mais velho país da Europa povoado por gente que perdeu o respeito ao que isso significa, liderado por gente que nem sabe quanto isso vale.
Amanhã, dia 25 de Abril, quantos já não comemoram publicamente o que foi, prepararam clandestinamente o que há que ser.

22.4.10

Comissões para lamentar

Quando os deputados que integram uma comissão parlamentar de inquérito se permitem expressar publicamente o seu pensamento sobre o que há para decidir antes de a comissão iniciar funções e mal a mesma deu os primeiros passos, quando citam para justificar as posições que tomam o pensamento da bancada parlamentar de onde são oriundos, sem distância nem resguardo, quando fazem apartes e se permitem piadas de mau tom e pior timbre, pergunto: acham que é assim que se honra a norma segundo a qual «as comissões parlamentares de inquérito gozam dos poderes de investigação das autoridades judiciais que a estas não estejam constitucionalmente reservados»?
Imagine-se um cidadão ante uma autoridade judicial que se permitisse tais liberdades! Tais anúncios prévios do que pensa quem o insta e decidirá, tal manifestações de quanto o inquiridor e decisor é porta-voz de pensamento alheio! Tais graçolas entre eles e com todos os demais...
Tentando ter dos tribunais os tiques, as comissões parlamentares de inquérito permitem-se intimar magistrados para serem ouvidos, requisitam cópias de processos criminais num tu-cá-tu-lá com o poder judiciário legítimo, invocando a lei. Terão para isso a autoridade formal e mais alguma. Falta-lhe a legitimação substancial, a da isenção e da independência, até a das boas maneiras.
Eis o que penso como cidadão e como jurista. Razão de ciência: o que tenho visto em directo e ao vivo!
Sejamos claros: é o mundo da verdade conveniente, um meio que permite desacreditar os tribunais.

11.4.10

Ânsia de martírio

No apontamento que publicou no número da Nova Águia dedicado a Teixeira de Pascoaes, um advogado que procurou asilo na escrita, Jesué Pinharanda Gomes diz, a propósito da Ordem dos Frades Menores, vulgo Franciscanos: que depois de se terem instalado em Portugal em 1217, em Alenquer e Guimarães e dois anos depois em Lisboa e Coimbra, «os frades apostados na missionação em Marrocos, onde foram martirizados (1220) este martírio prestigiando a Ordem».
Ficou-me esta expressão «este martírio prestigiando a Ordem».
Se atentarmos bens, quer nas pessoas colectivas, quer nas individuais, a ânsia de martírio é amiúde uma forma mascarada do desejo de apreço, uma forma de realização da honra. Assim como há quem não suporte ser amado há quem não conviva consigo sem sentir-se detestado.
Nasce daí aquela forma inamistosa de ser, em solilóquio de catacumba ou em vociferante guerrear.
O dia da imolação é o dia da exaltação!

10.4.10

A doçura do dever

«Há homens que parecem sempre prontos a comandar uma frota e a cortar uma perna; há outros que só fazem quando a obrigação das situações se converte num prazer». A frase é de Agustina Bessa-Luís. Resume a doçura agónica dos deveres. O herói é quantas as vezes um autómato a inexorabilidade a sua única fonte de contentamento.

6.4.10

A lei corrupta

Tenho sempre medo de comentar notícias de jonais. É que temos muita imprensa do «diz-se». E depois fica a responsabiliadde do comentário e a irresponsabilidade do que se comentou.
A ser verdade o que diz-se por aí o PS quer obrigar os juízes e procuradores a declararem rendimentos antes e depois do início de funções. Alega que isso é para combater a corrupção. Ora é patente que uma tal medida não visa combater corrupção alguma, sim rebaixar os que combatem a corrupção.
É uma medida de vingança política não de legitimidade jurídica.
Não que os juízes em democracia estejam acima de suspeita.Ninguém está.
A questão é outra. É que se for assim vamos a isto. Que todos declarem: políticos e não políticos, tudo quanto mexe em dinheiro ou em poder, na vida pública ou privada, militares, empresários, padres e infiéis, meninas da vida para o caso de traficarem influência no segredo das alcovas, garotos de programa para o caso de amaciarem os canais do poder.
Sejamos claros: a razão que levou o Estado a legislar no sentido de obrigar os políticos a entregarem declarações de riqueza foi a evidência que se tornava grave suspeita a de haver uns cidadãos que chegavam à vida pública com uma mão atrás e outra à frente e em breve trecho estavam milionários.
Foi uma lei para afastar uma suspeita que estava criada, uma lei defensiva que os políticos aprovaram para si próprios para que pelo cruzamento de dois papéis se lhes passasse carta de seriedade.
Ora que suspeitas há quanto a juízes que justifiquem esta lei? Digam-me quantos foram condenados, quantos acusados, quantos investigados? Nenhumas que eu saiba.
Vergonha pois e falta de pudor. A lei contra a corrupção dos magistrados é a lei de uma democracia corrupta. Nada como os viciosos para não acreditarem na virtude.

Uma notícia de...

Houve tempos em que era luxo. Davam champanhe. Brindes. Saquinhos e maletas com etiquetas da companhias. Uma pessoa que viajava de avião sentia-se importante. Mesmo na turística. As hospedeiras eram lindas, os comandantes aprumados.
Agora uma pessoa é descalçada antes de entrar, a comida é uma lata, os joelhos encostados à boca, um halo a gado, lúgubre, a desregulação aérea a meter medo.
A notícia entretanto chegou: «A Ryanair está a trabalhar com a Boeing, para equipar a sua frota de aviões 737-800 com casas de banho activadas com uma moeda de €1 / £1».
Claro que tudo na vida tem uma razão: «Daniel Carvalho, director de comunicação da Ryanair, refere ao LowCostPortugal que a medida visa desencorajar o uso de casa de banho de forma a adicionar uma a duas filas, cerca de seis a 12 lugares. Para tal, tem de se passar a utilizar menos o WC».
A regra é esta: fezes por passageiros. Um admirável mundo novo vem aí. Que ... de mundo!




O País e a Nação

Portugal é um País que sai caro à Nação. A frase, genial, é do Ruben A. no seu magnífico romance Kaos. O escritor morreu entristecido com muita coisa. Perseguido pelo regime anterior não se conseguiu identificar com o que saíu do 25 de Abril. Teve de se vexar a pedir e humilhar-se ao ver negar.
A sua escrita é magnífica de riso e extraordinária de dor. Fizeram-no efémero Director-Geral por equívoco, ele fundou o jornal «Expresso» por brincadeira.
A diferença entre País e Nação há muitos à esquerda que não a conhecem, julgando que só há classes sociais. Mas também há disso à direita, julgando os místicos da ordem que há uma Pátria acima da Nação e convindo aos pragmáticos dos negócios que venham quaisquer apátridas trabalhar para o País, seja qual for a sua Nação.
Depois há os patriotas quando joga a selecção nacional de futebol e os nacionalistas quando o Santander compra o Totta. Ah! E o Zé-Macho, personagem crucial do romance que se pergunta ante a ideia da luta de classes se vão à luta a terceira e a quarta classes da primária. Coisas que já não há, claro. Tudo cai, a Pátria, a Nação, o País, por esta ordem. Um dia estamos todos na Eurolândia, excepto os que fugiram para a mata porque a luta continua.

3.4.10

Os dias miseráveis

Ligue-se a televisão e veja-se a carga feroz de violência que é despejada no écran. Saia-se à rua e sinta-se o descontrolo nervoso que anda por aí à solta em cada incidente de trânsito. Leiam-se jornais e veja-se como são cometidos hoje os crimes, a reiteração, a brutalidade. Seja-se professor e sinta-se o medo de dar aulas, receio de sair da escola sozinho. Tenha-se idade avançada ou menor idade e viva-se a dúvida sobre se será seguro fazer-se à rua, sentar-se num jardim.
Tudo é o mesmo. Miúdos matam virtualmente em jogos em que o assassino é herói, impune, imortal. Um dia pega-se numa faca, e a morte deixou de custar. É só um frio na espinha num primeiro instante, depois a alegria infinita de ter acertado.
Estamos a ser uma sociedade de bandidos. Os que o permitem julgam-se decentes na sua cobardia. Depois somos impiedosos intervaladamente. A tolerância para com tudo traduz-se na  impiedade para com alguns. É esse o desespero dos que ainda restam. A sua decência é uma dor de alma e um espectáculo triste.
A crucificação é uma forma de gozar a longa agonia, prolongando a dor e a volúpia de quem a causa.

2.4.10

A misericórdia e a esperança

Censora, acusadora, justiceira, guardiã da inocência, a Igreja que queimou vivos quantos prevaricaram, que excomungou os que divorciaran e anatemizou os que ousaram duvidar, a mesma Igreja cai hoje de joelhos aos pés da cruz.
Pede perdão mais do que a Deus, pede misericórdia à memória dos que condenou. A pompa abate-se, inútil, o báculo abate-se, bengala de trôpego banido.
Eu leio: «Por isso os apóstolos trancaram as portas com medo. Nada estava concluído apesar de Jesus dizer que “tudo está consumado”. Apenas estranhos como o Centurião e Nicode-mos trabalhavam na sombra a convicção de que ali não estava o fim. Um dos ladrões também, mas tinha partido. Um silêncio descrente se apoderou de todos, inclusive dos que desconfiavam dos guardas do túmulo que poderiam deixar escapar, por roubo, o corpo desse Nazareno que veio roubar a tranquilidade à cidade ocupada onde pouco acontecia. Outra vez fora adiada a vinda do Messias». É o editorial do Padre António Rego, da Agência Ecclesia, a fonte de notícias da Igreja Católica em Portugal.
Infinita seja a misericórdia e a esperança. Se não houver Deus, é o reino de Satanás em plena glória e esplendor.