25.4.11

Portugueses, de pé!

Escrevo isto com a tristeza de hoje ser o dia 25 de Abril. Nesse dia, em 1974, por causa da PIDE eu estava em Armas Pesadas de Infantaria no Quartel em Mafra.
Um regime que não garante nem emprego nem futuro à esmagadora maioria dos seus jovens, arrastando-os para a infantil dependência dos pais e para o perpétuo desemprego, um regime em que os jovens machos se imbecilizam com jogos virtuais violentíssimos e os adultos se idiotizam com o futebol na tv em doses cavalares e em que a coscuvilhice feita jornalismo rosa alimenta a ociosidade e a falta de sonho da feminilidade solitária.
Um regime que endividou o Estado até ao osso depois de o ter deixado pilhar por meia dúzia de novos ricos e agora faz todos pagarmos a conta do festim.
Um regime que tem as famílias falidas, porque enforcadas em hipotecas imobiliárias, e estraçalhadas por causa do crédito ao consumo e desejosos de mais gasto e mais compras.
Um regime de publicanos e filisteus, todos na ânsia do ganho, da renda e do lucro.
Um regime em que dois partidos que não se diferenciam nem distinguem pelas ideias e são iguais na ganância e na sede de poder rendoso, são, afinal, o partido único, a União Nacional dos tempos de hoje.
Um regime em que uma faixa significativa dos seus nacionais nos venderia à Espanha em troca de um prato de lentilhas.
Um regime que saqueia a Nação com impostos e em que os contribuintes aldrabam o Estado nos impostos, achando-o ladrão.
Um regime em que já não se sabe quantos anónimos bichos-careta foram Secretários de Estado ou até ministros e menos ainda quem eram ou de onde vinham, mas em que se percebe depois ao que vinham.
Um regime que capou os militares, achincalha os tribunais e domesticou a Igreja.
Um regime com estes e tantos outros males está minado pela pior lepra que é ele ser a gafa que tudo contamina.
Um regime destes e não este ou aquele Governo ou este ou aquele partido ou aqueloutra coligação tem de se deposto. A bem ou a mal.
A tarefa patriótica para os poucos a quem restem forças e esperança não é o que fazer nas próximas eleições.
Um regime destes clama, exige e merece uma Revolução. Chegou ao ponto em que ele é a semente da sua destruição. Não uma revolta cívica ou o lento corroer das manifestações de rua. Uma Revolução.
Não foi para isto que se fez o 25 de Abril. Foi por isto assim que surgiu o 28 de Maio.`
Portugueses, de pé.

24.4.11

Quando o lobo acordar

Parecerá arrogância, mas a cidadania é feita do direito e do dever de cada cidadão exprimir o que pensa. Porque cada homem é um voto.
Lamento concluir mas nenhum dos dois partidos que têm sido Governo me oferece confiança para poder acreditar que têm soluções para Portugal. Lamento concluir que as poucas pessoas com valor que restam neste País não arriscam o que seja para se mobilizarem para a causa pública.
Aqueles partidos não têm dirigentes credíveis, estas pessoas não querem fazer perigar os seus interesses ou o seu bom-nome. A calúnia passou a ser arma política, a vantagem pessoal o seu móbil.
A linha da frente da vida política em Portugal está entregue pois aos que só têm a ganhar porque nunca tiveram muito a perder. É o mundo do arrivismo. A retaguarda que os sustenta é a apatia dos que se vão safando nos interstícios da economia paralela e do mundo dos expedientes, mais o empreendorismo manhoso dos que se encheram com a especulação privada e com a depredação do Estado.
De quando em vez surge um que parece um bem intencionado, altruísta e desapegado. Em breve se mostra um Nobre de nome.
Há, claro, os ingénuos úteis, os que ainda acreditam e militam ou até simplesmente votam. E os indecisos e a abstenção, o maior partido português.
Que Portugal tenha uma solução, terá. No imediato vai ter um Governo comandado pelos credores, assim como até aqui era governado por funcionários de Bruxelas. Passámos a ser uma Nação entregue a intendentes. Na hora do voto escolheremos empregados julgando-os senhores e sonhando no momento do voto que somos donos do nosso destino.
A urna passou a ser eleitoral e funerária. Através dela a democracia vai agonizando, sangrada por aqueles partidos que a aprisionaram.
Passadas as férias da Páscoa e a tolerância de ponto Portugal entrará na via sacra. Lentamente a dor das privações vai fazer-se sentir. O baile tresloucado e ébrio do crédito sem garantias e do calote consentido vai dar azo ao fim de festa e à ressaca. A classe média, endividada até ao tutano, será a primeira a ajoelhar. É dela que surgem historicamente os sentimentos de revanchismo, sementes das comoções políticas que desembocam em tragédia. O proletariado aburguesado pelo sindicalismo interesseiro não vencerá as contradições das suas ambições medíocres, de que um plasma para o futebol compra a alienação.
O egoísmo europeu mostrou já a sua face. À Europa lírica, dos passarinhos multiculturais, sucede um cerrar de fronteiras e a defesa do espaço vital das potências do Eixo franco-alemão. Não é essa agremiação de interesses que nos salvará. A Sociedade das Nações imaginou no seu tempo que não haveria mais guerras. Com o Tratado de Versailles a Europa imaginou que conteria a Alemanha pacífica e longe do mar. Um dia o lobo acordou esfomeado. As pegadas do ódio multiplicaram-se  na terra fértil do anseio de ordem e de orgulho nacional.

21.4.11

O gesto estranho

Estendeu-me a mão decidida mas com um olhar indiferente, como se ainda prosseguisse, arrastando-a, a conversa com o que me antecedia. À pergunta sobre se poderia entrar com aquele saco, nem resposta deu, alçando-mo, mecânica, da mão, para colocá-lo, preste, num cacifo, entregando-me, em troca, uma ficha de depósito.
Havia, porém, algo de incerto no seu modo de agir, como se uma timidez ocultasse aquele rápido desembaraço. Era a seu modo eficiente, ainda que pouco comunicativa. Mas estranha.
A verdade surgiu com a crueldade da conclusão no mesmo instante. Hoje, tarde de chuvisco e de tolerância de ponto, tarde de compras naquele supermercado, ela era peça anónima do serviço de recepção. A sua tarefa tinha a importância de tentar defender a honra dos honestos face a equívocos e evitar que os desonestos se pudessem aproveitar da confusão. Além disso era aquele o seu ganha-pão, do qual sairia, Deus sabe, que sustento para nem se imagina o quê.
Havia em tudo isso uma única particularidade que tudo explicava incluindo a estranheza dos gestos: era cega.
Depois de mim, os seus olhos inseguros e mortos varriam o horizonte próximo buscando quem quer que viesse a seguir a nós. Pressentia, como num arrepio, a presença do outro, a sombra humana, o passo seguinte da sua repetitiva função. Tantas horas assim durante cada dia, todos os dias.
São estes os pequenos heróis quotidianos, os que envergonham as nossas menoridades de alma com a sua força moral, a capacidade de resistirem silenciosamente à adversidade, o tornarem passinho miúdo da rotina os passos de gigante da sua coragem.

1.4.11

Uma Nação que se salve destes Governos

A pontos de ser classificado como «lixo» pelas agências internacionais, no limiar da banca-rota, o problema não é o Governo já nem ter coragem de ser ele a pedir socorro por esmola às instâncias do capitalismo internacional de que foi serventuário, apodando-se então sem vergonha de "socialista". O problema é que a alternativa política que se oferece é tão má como a que existe.
Não precisamos de um Governo de salvação nacional, sim de uma Nação que se salve destes Governos.
O pessoal que se perfila para o poder é cada vez mais de mais baixo nível. Com raras excepções são aqueles a quem nenhuma empresa intelligente daria emprego, aqueles que só recebem emprego das empresas amigas dos Governos por causa de terem estado num qualquer Governo.
A decadência moral do País não é a do falido nem a do pedinte, sim a do perdulário e do inepto.
A Nobreza terratenente gerou no seu tempo os dandys que se venderam à burguesia rompante para se manterem, o brasão já gasto, entre espanholas e calotes. Hoje são plebeus donos de nada que se hipotecaram ao cartão de crédito e ao descoberto autorizado.