7.2.06

E eu para aqui neste Estado!

Eu penso que o povo não aguenta. Primeiro foi o quererem os políticos mais próximos dos cidadãos. Agora é Jorge Sampaio a querer a Administração Pública mais perto dos mesmos infelizes cidadãos. Se isto tudo passar das palavras às intenções e destas aos actos, a vida torna-se um inferno. Um tipo acorda de manhã, ainda meio alquebrado de uma noite curta, e cruza-se, a caminho dos lavabos, com o seu eleito local, que lhe veio desejar bom dia e perguntar, pressuroso, se ele precisa de alguma coisa. À saída do duche, ainda meio húmido, eis o técnico camarário das águas e efluentes a perguntar se o banho estava quentinho e o jacto em boa pressão. Ao chegar ao café, por lá já anda, antes das oito da matina, o fiscal dos géneros alimentícios, ou como é que agora se chama, em cima dos pastéis de massa tenra da véspera. Na carreira 28, se não for com os funcionários do seu bairro fiscal ao colo, leva com os dos serviços municipalizados empastelados na hora de ponta. Enfim é o cerco total. Com o Estado às costas, a Administração central e a descentralizada às canelas, a local e a regional à ilharga, os institutos públicos à garupa, os serviços autónomos filados nos gargomilos, o pobre cidadão, ratando uma hora de almoço para uns rápidos amores clandestinos e venais, descobre, na enxerga manhosa da feia pensão do despacha-te e anda, que os braços acolhedores pelos quais tanto sonhara, em devaneios clandestinos e sonhos proibidos, são de alguém que, ciciante, lhe murmura ao ouvido a palavra que lhe solta a animalidade feroz da loucura final e homicida: filho, desculpa, agora é o preço do serviço e mais IVA, sabes com é, o Estado não perdoa.