29.6.07

Haja quem mande

A oposição ao Governo julga que gritando ao país que o primeiro-ministro quer controlar as instituições, apodando o chefe do Governo de autoritário e acusando-o que querer o poder total o enfraquece perante os votantes. Erro crasso! É só andar nas ruas. Cada vez mais os portugueses querem é que «haja quem mande!». Ao brincar com o fumo das palavras os partidos nem percebem que preparam o fogo que pode imolar desta democracia da qual vivem. Cada vez mais há mais gente com medo, não da perda da liberdade, sim da perda de rendimentos.

28.6.07

A perseguição tabaqueira

Eu não sendo dos que não fumo, não sou dos que fumam. Deve-se isso a ter começado a fumar cachimbo e achar desagradável o tom acre dos cigarros comuns. Daí resulta ter beneficiado de não haver fumadores de cachimbo compulsivos, como há os fumadores de cigarro em chaminé. Um fumador de cachimbo ao menos dá-se conta do que está a fazer!
Ora está agora na moda perseguir os fumadores como se marginais fossem, deliquentes do ambiente, suicidas perigosos. A mesma sociedade que deixa milhares de automóveis envenenarem o ar, finge-se amiga da Natureza e preocupada com a saúde face a um pitilho público. Hipocrisias, em suma, tantas elas são, é mais uma.
Não sei se a cultura proibicionista abrange o tabaco de mascar e o rapé de inalar. Não é que eu, pobra inalador ocasional tenha de encontrar aí a saída para o meu vício. É só por me lembrar de uma frase de uma minha bisavó que, ao ter apanhado o filho, garoto, a fumar às escondidas, lhe deu uma grande reprimenda que abriu com um «ai fumas? pois até cá atrás cheiravas!».
Não tive tempo, pois ando com trabalho a mais para a vontade que tenho, mas acho que um qualquer prontuário me salva explicando que «até cá atrás» quer dizer, até agora, até há pouco, no passado, antes, enfim, qualquer coisa que sendo recuado não seja traseiro.
E, a propósito, tanta perseguição tabaqueira, já começa a cheirar mal!

24.6.07

O culto dos mortos

No campo mimoso em que se torna a polémica pública em Portugal, uma pessoa já nem se surpreende. O futebol sempre foi o local psicológico da catarse das emoções, o libertador das pulsões primárias, a possibilidade de os cavalheiros refinados despejarem palavrões acumulados, o pretexto para eu estar sãmente contente pela alegria de o meu clube estar a ganhar e maldosamente feliz pois o clube do meu vizinho está a a perder.

Hoje de manhã, ao passar os olhos pela imprensa à borla a que pela Net se chega, vi que«o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, considerou que as acusações do seu homólogo do FC Porto, Pinto da Costa, são o «estrebuchar do morto» e de alguém que já pede a ajuda da justiça divina».

Ora como eu disse há pouco, depois de uma noitada, acabei o livro que o Wenceslau de Morais escreveu em 1914 sobre o culto dos mortos, onde a propósito se aprende que, o morto, mesmo quando incinerado, «fica em casa, fazendo parte da família».

O Presidente do SLB bem pode, pois, matar o seu homólogo no norte. Quanto mais morto, mais vive! Um dia esta gente aprenderá.

23.6.07

A hora universal

«Que horas são?: as que Vossa Magestade quiser!». Eis numa frase irónica, anedota de outros tempos, o agachamento serviçal e sabujo ante o mando, o de cócoras comportamental e louvaminhas que tão frequentemente por aí vemos, a vontade de agradar e cair no goto, o estar com quem está e ser como quem é.
Eu sei que é apenas uma historieta, e que há toda uma legião de revoltosos a mostrar o oposto, quais relógios propositadamente adiantados. Há, porém, só uma particularidade a ensombrar tais criaturas sempre à frente do seu tempo. É que perante esses cronómetros de ideias avançadas, ao olhar-se para eles, para se saber que horas são, há sempre que lhes dar um desconto, às vezes um grande desconto mesmo.

22.6.07

Cenas e fitas

«Nos primeiros cinco meses deste ano, as salas de cinema portuguesas foram visitadas por 6.205.888 espectadores, o que traduz uma quebra diária de 2.222 espectadores». Vem na imprensa. A pergunta é: para onde se deslocaram estes espectadores? Para que fitas? A vida social só por si, vista de fora, lida nos jornais, é melhor que o animatógrafo. Nalguns casos, com cenas para adultos mesmo, noutros verdadeiros filmes de terror. No mais, já nem há quem vá para o escurinho do cinema. Resta ir lá para comer pipocas e beber xaropes gaseificados. O sonho projectado no écran prateado tem os dias contados, morta que está a capacidade de se sonhar.

17.6.07

Cair mal

Acabei de ler este começo de manhã o primeiro fascículo das memórias que o José Hermano Saraiva está a divulgar sobre os oitenta e seis anos da sua vida. Depois de uma vida a divulgar o passado dos outros, eis o momento de divulgar o seu.
Lê-se e há ali um pouco de tudo. Num momento é a lembrança de quando Henrique Galvão e outros foram condenados em «penas suportáveis» por conjura sediciosa, mais adiante como é que «o antigo herói do Estado Novo» seria depois condenado a uma pena de catorze ou dezasseis anos, no tribunal plenário na Boa Hora, por «rebelião militar». É aqui, no contar desta condenação, que vem um excerto revelador: «a sentença caiu mal mesmo nos círculos mais ligados à justiça penal», conta Saraiva.
É domingo de manhã, acordei mais cedo para acabar de ler esta narrativa, e eis-me a meditar no facto de uma insuportável sentença ter caído mal «mesmo» nos círculos mais ligados à justiça penal». Dá mesmo para pensar! Quando uma coisa dessas cai mal «mesmo», aí, é obra!

Um grande 31

Ainda consegui ler o primeiro fascículo do livro que o José Hermano Saraiva está a publicar, através do jornal de que o sobrinho é director, com as suas memórias.
A propósito do Henrique Galvão, figura grada do salazarismo e posterior chefe de fila da oposição a Salazar, lembra Saraiva que ele foi um dos cadetes do Sidónio Pais.
Ficaram-me os olhos na expressão. O país político é o resultado dos cadetes do Sidónio, dos tenentes do 28 de Maio, dos capitães do 25 de Abril. São os militares quem fazem e desfazem o regime político de Portugal.
Como se nota a coisa tem vindo a subir de patente. Pela lógica, da próxima cabe a vez aos majores mas, ou eu muito me engano, ou desta feita, o 31 salta pela mão dos sargentos.

11.6.07

José Luís Saldanha Sanches

Ouvi ontem o Doutor José Luís Saldanha Sanches na SIC Notícias.
A propósito do assunto não vou entrar no «diz tu direi eu», nem usar os blogs a que estou ligado para discutir o caso. Já o disse.
Só quero deixar aqui três breves apontamentos para quem quiser saber, a bem da verdade.
Primeira: antes de se doutorar pela mão do Professor Soares Martinez, Saldanha Sanches foi meu aluno na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, onde lhe fiz exame de Processo Penal, tendo a elevada nota premiado o apreço que tive pelas suas provas. O facto de quer agora, quer em anterior entrevista à RTP-2, uma das muitas que tem dado sobre a matéria, forçar a ideia de que nem do meu nome se recorda, deve ser interpretado a esta luz. Cada um que conclua.
Segunda: tentando apoucar a minha iniciativa, o Doutor Saldanha Sanches declara que eu pretendia que parasse tudo e todo o MP fosse constituído arguido. Na denúncia criminal que apresentei contra incertos, pedi, entre outras diligências, que fossem tomadas «declarações, a todos os magistrados do Ministério Público visados pelas afirmações produzidas pelo Doutor Saldanha Sanches, para que se possam defender, como arguidos [ante a imputação outro estatuto não é processualmente possível!] e com os direitos respectivos, de tão graves imputações, ou perseguidos criminalmente, se incursos em responsabilidade penal». Notem-se as diferenças.
No mais, são opiniões dele sobre o que disse e sobre o que queria dizer e mais opiniões sobre política, políticos e sobre a sua pessoa e a pessoa de sua mulher. Nada tenho a ver com isso.
Saldanha Sanches disse não querer comentar a investigação instaurada contra João Soares «por ser amigo». Se uma pessoa se resume numa frase, está dita.

10.6.07

Portugal e os Portugueses

Houve tempos em que o dia de hoje era o dia de Portugal. Mais tarde passou a ser o de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Seja qual for o nome, é mais um dia em que o país real sente com indiferença. As comemorações resumem-se aos actores políticos e seus funcionários, aos seus discursos, às condecorações, às paradas militares e de sapadores bombeiros.
Entre comendas e palavras o dia passa. Hoje a Natureza resolveu dar em chuva, para carregar de cinzento e de tristonho um dia de maçadoria oficial, o calendário fez recair num domingo este dia que nem sequer aumentou assim os dias de descanso da população.
Hoje, 10 de Junho, deveria ser o dia dos Portugueses. Não é. Hoje é dia do Estado fingir que é Portugal.

9.6.07

O bife e o osso

«O capital privado quer apenas o bife do lombo, não quer o osso», disse Jerónimo de Sousa em Vendas Novas. Percebe-se que em política uma boa imagem ajuda a passar a mensagem e com tanto discurso a ter que se transformar em frase citável, a imaginação criadora esgota as suas reservas. Esta agora de o dirigente do PCP dizer que o capital privado já nem o osso quer, é mesmo chamar-lhes, aos do capital, «abaixo de cão». Convenhamos...

Tão fácil

Por que estranho sentido de pudor não uso os blogs para falar dos processos que me estão confiados, ou mesmo daqueles em que estou envolvido numa lógica de cidadania? Ser-me-ia fácil: um post, um click, já está!
Aos que esperam que eu diga, vaidoso pois que de mim orgulhoso, que é por uma razão grandiloquente, desiludam-se: francamente, não sei. Será o acaso, talvez, que dita isto suceder assim, um acaso feliz.

7.6.07

Partidos, S. A.

De acordo com dados da contabilidade dos partidos políticos, alguns deles estão a tornar-se empresas lucrativas. Um destes dias, altera-se a lei e eles passam a estar cotados na bolsa. Nessa altura o José Sócrates lança uma OPA sobre o PSD, Jerónimo de Sousa blinda os estatutos do PCP, para evitar take-overs hostis.