27.2.07

Constantes críticas...

Há quem esteja a fazer a imprensa andar, de há muito, atenta aos rendimentos deste Governador do Banco de Portugal, talvez por estar há muito no lugar e haver sérios candidatos ao emprego. Hoje vem no DN que o senhor declarou 280 mil euros de rendimentos. Como se sabe, Vítor Constâncio é um socialista que normalmente vem dizer com ar solene que a economia do país vai mal, as finanças péssimas. É um caso de objectividade, não confunde o seu mundo com o dos outros, o paraíso socialista para si com o inferno capitalista para os outros.

A Bela e o Monstro

O senhor ministro da Justiça, num arroubo literário lembrou-se de dizer, no Centro Cultural de Belém, que o monstro que ameaçava a Justiça está a emagrecer. O curioso é que a foto que orna a notícia mostra-o mais chupado e enfiado. Uma inagem vale mais do que mil palavras!

24.2.07

Ética, corrupção e jornais!

O PGR Pinto Monteiro disse que não há uma «consciência ética forte que censure a corrupção em Portugal, esse é o grande problema. A maior parte dos portugueses durante muito tempo encaravam a corrupção como uma coisa que naturalmente acontecia e que todos faziam». E como se isto já não fosse claro acrescentou que a «corrupção não foi censurada pela consciência moral do povo», dizendo que a sua prática «começa agora a ser censurável graças à comunicação social que trouxe o tema para a praça pública».
Eu fico atónito ao ouvir isto.
Primeiro, porque se quiser fazer uma blague e desconsiderar o argumento, diria que, administrando os tribunais a justiça em nome do povo, o povo de que fala Pinto Monteiro, como ficou aliás na própria Constituição, então, na lógica do dito do PGR, tem sido uma justiça de e para corruptos eticamente inconscientes a que tem havido, o que é um insulto a tudo e a todos, um enrolarem-se as palavras no nó da falta de ideias.
Segundo, e porque não quero fazer blague com uma «boutade» sobre um caso sério, gostaria de sublinhar quanto isto que o PGR disse pode traduzir de arrogância mental e de servilismo face à comunicação social, a ideia de que o mundo começa agora com ele e há que vivê-lo sempre com os olhos nos jornais.
Lembre-se Pinto Monteiro da hipertrofia do Estado, da prepotência do Estado, do arbítrio do Estado, da auto-impunidade do Estado, lembre-se Pinto Monteiro quanto se instalou em Portugal um Estado alçado à custa de oprimir, tirano, e explorar, parasitário, a sociedade civil e talvez entenda o acomodar patrício aos funcionários venais e ao seu poder arbitrário.
Lembre-se Pinto Monteiro quanto custa obter aqui uma certidão, ali uma licença para uma obra, mais adiante uma intervenção cirúrgica para se não morrer e perceberá como se alugam, peitando-os, os que estão do lado de lá do balcão.
Mas lembre-se quanto uma nova vaga de funcionários em muitos serviços trouxe uma nova cultura, uma nova dignidade, uma recusa de gorgetas e gratificações.
Não, senhor PGR, não são os jornais, lamento dizê-lo, onde há jornalistas sérios e impolutos e os não há também, quem fez com que houvesse uma nova ética reprovadora da corrupção. Como em tudo na vida, há o jornalismo do frete, a publicidade fingida de notícia, o escândalo por encomenda, o insulto editorial como via para o sucesso público.
Os jornais denunciaram a corrupção, eis, por ser escândalo, o seu combate por ser notícia!
O que sucede, nesse binómio Justiça/comunicação social, é que hoje a Justiça combate-a, à corrupção, pavoneando-se nos jornais quanto a andar a fazê-lo. É por isso que, tal como no Hamlet, o palco parece a vida, os vivos simples actores.
Enquanto cidadãos, sujeitos aos corruptos e leitores de jornais, cá estamos, senhor PGR, à espera dos resultados para ver se sim, ou se o combate à corrupção, não se tornará, pela ineficácia, num organismo regulador do mercado, ajudando a aumentar o preço.
Em tempos chegou a haver uma Alta Autoridade contra a Corrupção. Em tempos mudou-se o Código Penal, pra combater os corruptos. Em tempos ouvi dizer de um autarca que mandou matar os pombos da praça do seu município porque, quando ele passava, palravam dos beirais, acusadores: corrupto, corrupto, corrupto!
Em tempos já vi que havia gente que pensava que era desta.

22.2.07

Diga lá, Excelência!

Não vi, mas contaram-me. O Dr. Cunha Rodrigues dizia, com aquele estilo de sublimado corrosivo com que irritava os outros políticos, que tinha um problema grave com a comunicação social: o que eles gostavam de saber, ele não podia dizer e o que ele gostaria de dizer, eles não queriam saber. O Dr. Pinto Monteiro ainda está na fase do que eles gostariam de saber. Acho que foi assim ontem à noite, contaram-me!

20.2.07

O clarividente

Jorge Sampaio, quando foi Presidente da República e se irritava, e irritava-se muito, dizia coisas e acrescentava: «como é evidente!». Cavaco Silva, que agora é o Supremo Magistrado da Nação e não se quer irritar, deve ter suspirado de alívio quando o ministro Alberto Costa, por causa da história do foragido indultado, veio explicar-se de que os registos do caso eram de «leitura não evidente». Claro que esta explicação é um zero verbal, mas, asneira feita, ficam todos, de Belém ao Terreiro do Paço, muito bem compostos neste «pacto» de silêncio sobre a justiça.

O mão-leve

«O Estado rouba, rouba o Estado», está escrito numa parede em Lisboa. A ideia percebe-se, pois é óbvia: na psicologia política de muitos portugueses, o Estado é o outro, é o mundo do eles, com o qual eu nada tenho a vêr. Claro que, nesta relação do privado com o público, às vezes voto, muitas vezes abstenho-me, normalmente desinteresso-me. Roubar, nesta forma de pensar, é apenas uma variante social de uma moral muito própria: o Estado tira-me contra a minha vontade, eu rapino-o, sem que ele dê conta.

19.2.07

Testículos regionais

Acho que foi ontem que vi o Presidente do Governo Regional da Madeira a falar na falta de testículos no Continente. A coisa não me atinge directamente, pois nasci em África. Há pouco ouvi-o a anunciar que se demitia para voltar a concorrer e, percebe-se, voltar a ganhar. No meio disto tudo chamava nomes a um tal senhor José Silva, que era, afinal, o primeiro-ministro. Enfim, antigamente Alberto João mascarava-se no Carnaval. Desta feita, só se for em pelota, os testículos em evidência, protuberantes e prometedores! José Sócrates que se cuide, pois.

18.2.07

Saúde desarticulada, ministro articulista

O ministro da Saúde, instado para comentar o encerramento de um serviço de urgência no Minho, remeteu para um artigo que escreveu no «Diário de Notícias». É fantástica esta forma croniqueira de um governante se pronunciar sobre um assunto oficial. Qualquer dia, Suas Excelências estão a colocar anúncios na secção de mensagens dos jornais, ao lado de menina quente e sem tabus faz domicílios.

Acabou-se o papel!

Um director de jornal hoje é demitido porque o jornal não vende. Ora como os jornais não vivem dos exemplares que se compram, mas da publicidade que os sustenta, o negócio compreende-se. Quem quiser sobreviver no mercado, não se aluga para imprimir papel que se leia, vende-se para distribuir papel que embrulhe. No mais, viva a liberdade de imprensa! Viva!