22.3.06

Cobranças duvidosa

Acordo pela manhã e leio: «o total de crédito bancário com cobrança duvidosa a particulares no final de Janeiro ascende a 2,08 mil milhões de euros, o máximo de pelo menos cinco anos». Mas a notícia continua: «A finalidade «habitação» leva cerca de 80% do total emprestado». Eis os modernos servos da gleba, amarrrados à grilheta do imóvel, serventuários do imobiliário, suportando a corveia bancária. Ei-los, jovens casais adquirindo o que sonham ser a casa sua, o lar do seu parceiro, o ninho dos seus filhos, ei-los solitários convictos, conformados divorciados, resignados viúvos, ei-los todos, hipotecados ao último refúgio, o covil do remanescente que a vida lhes dá. A vinte e cinco, a trinta anos de servidão adscrita, pelo juro anatocista escravizados, ei-los inscritos na rubrica da cobrança duvidosa, um número, um momento das estatísticas, uma vergonha de vida e um escândalo de sociedade. Eis o mundo em que nos cabe viver, o da usura e do calote.