15.8.06

Atrás do sol posto

Eu ontem acho que coloquei sem querer um clássico problema da sociedade portuguesa que é o saber se o público funciona melhor do que o privado. Há sobre o assunto uma discussão ideológica. Mas há depois o critério prático. Os que têem dinheiro, em regra, preferem os colégios particulares, os hospitais privados, os seguros de saúde, os advogados em profissão liberal. Se o sistema público de educação, de saúde e de defesa oficiosa são excelentes, a verdade é que a maioria dos que podem finaceiramente não os querem. Depois, um leitor amável, colocou um outro problema, o de se ter sorte ou azar no atendimento, a diferença entre o ser um zé-ninguém ou uma cara conhecida. Há ainda um outro que é o ser-se de qualquer coisa, a pertença a um mesmo clube, ou da mesma terrinha. Ante o burocrata façanhudo e resmungão, o descobrir-se que afinal o mal tratado utente é da mesma aldeia é logo uma radical viragem no modo de tratar. Isto para não falar de ser-se da mesma agremiação. O complexo de inferioridade do português leva-o a ser deferente com os poderosos que, no fundo, inveja. A sua ruralidade ancestral leva-o a defender a sua courela e os que de lá vieram, por raiva aos que de lá não são.