9.9.06

O chique e o Chico

Há uma crónica risonha do Artur Portela Filho, penso que daquelas que ele publicava no efémero «Jornal Novo» ou que ele editou em «A Funda», na qual ironiza o nascimento do «Expresso». É um texto divertido, sarcástico, daqueles que são um notável tónico para o fígado. Nele, um personagem fictício mas onde logo se descobre o Francisco Pinto Balsemão, desdobra, luzidio de vaidoso e num jactante «já está!», o primeiro número do seu «O Palmelense», pois a sede inicial do jornal era na Rua Duque de Palmela, e a propósito do formato longo e imenso do jornal, dizia algo como - e cito de memória -: um jornal chique, daqueles que se lêem, assentando-os ao longo da perna traçada, no sofá do clube. Era assim, em contraste com as «folhas de couve», os pasquins da classe média, a sujarem as mãos, impressas por revoltados tipógrafos, de «insolentes gangas», e lidas por gentinha «a cheirar a calote e a pastel de bacalhau com vinho tinto». Tudo isso hoje mudou. Os tempos vão duros. Por isso o «Expresso», de há muito que deixou de ser chique e com a idade descobriu-se hoje que tinha encolhido. Francisco Pinto Balsemão vê-se na contigência de ter enfrentar a concorrência. Ele sabe que basta roubarem-lhe vinte mil leitores e o mundo a seus pés começa a ruir-lhe.