22.9.06

Uma procuradoria que procura

Ou eu me engano muito, e engano-me de facto bastas vezes e passo a vida a ter dúvidas, ou o Presidente da República, que queria ter na justiça a paz e a concórdia, de que o governo fez pacto, acaba de criar uma nova variante de Procuradoria, aquela que procura conflitos. O estilo directo, a ausência de peias de Pinto Monteiro contrasta fortemente com o labiríntico Cunha Rodrigues e com o crédulo Souto Moura. Hoje já vieram os do Conselho Superior da Magistratura dizer que ele, o novo PGR, os ofendera numa entrevista anterior, o que «não augura nada de bom para o relacionamento entre os dois órgãos». Claro que a vida está repleta de casos em que, no final, todos convivem de palmada nas costas. Só que a vida onde esses afrontamentos públicos terminam em confraternizações privadas é a vida política. E ou eu me engano muito ou a politização total da Justiça está à vista: jogos de poder, luta por cargos, ânsia de protagonismo, a função como um meio, a gestão do tempo, da imagem, tudo aquilo que os políticos fazem, eis.
O tempo se encarregará de mostrar para onde vamos. Eu se fosse político, exultava ao ver os magistrados comportar-me como eu, em ânsia pelo poder. Clones de mim, cada um seria um gérmen do virús que leva no fim ao descrédito total. E é disso que se trata.