12.1.08

A memória do que li

Lembrei-me agora, sabe-se lá porquê que o Homero Serpa está morto. Fui visitá-lo através do seu livro de contos «Largo da Memória», lugar simbólico ali ao lado da Ajuda.
Jornalista desportivo, Serpa escreveu a biografia de Cândido de Oliveira, esse lendário inspector dos correios, fundador de «A Bola», agente secreto dos ingleses, por causa do que foi parar ao Tarrafal.
Esta sua obra de ficção é sobre «cursos de inquietação, de sofrimento, se esquecidas resistências, de sorrisos também», como a história do Messias sobre o qual «aos indiscretos» os vizinhos diziam que «ensandecera por ter livros e mais livros entranhados na mioleira».
Estou com ele agora neste bocado de noite, livro «das sacristias, onde ele jurava não entrar nem na posição horizontal», volume já lido em tempos, a rever-lhe os sublinhados, eu que leio sublinhando e pelo que sublinho concluo se valeu a pena ter lido.
Lembrei-me agora que tenho de acabar este livro, porque a memória do que li, leva-me à inquietação do que ficou por ler.