13.11.08

Fernando Pessoa em leilão

Tudo se reduz ao que vale o que sobeja. Fernando Pessoa teria de passar pelo vexame póstumo de ver os bens leiloados pela família e o leilão interrompido por providências judiciais. Li isto esta noite, por não ter podido trabalhar que assim sucedeu.
Talvez por isso, regressado a casa, tenha ido folhear, como num consolo possível, o livro de Luís Pedro Moitinho de Almeida sobre o poeta, que o falecido advogado e estremosa criatura conheceu ainda rapaz, empregado de uma firma de seu pai, sita no primeiro andar do número 71 da Rua da Prata.
Estão ali, não os modos de «fazer pela vida», com que António Mega Ferreira tentou reconstruir uma imagem banal e empresarial de quem escreveu os Poemas Dramáticos, mas sim os «vales à caixa», promissórias mendicantes de quem com isso alimentava o seu viver distante.
Fernando António Nogueira Pessoa morreu no Hospital de São Luís dos Franceses. Faltava só matá-lo, a golpes de licitação póstuma. Agora já está.