28.2.09

O país de encarcerados

Quando o Canjica barbeiro, Porfírio Caetano das Neves de seu nome, que comandou a revolta contra a Casa Verde, «essa bastilha da razão humana», invectivou o padre Lopes querendo saber se sua Reverendíssima não estaria contra a nova situação revolucionária ou se aceitaria celebrar um Te Deum que conjugasse, numa só voz, o poder espiritual oriundo do Céu com o novo poder temporal ansioso de legimitação ao menos celeste, o mundo mostrou o que é.
Esperando, de «aspecto tenebroso» a resposta do vigário de Cristo, ouviu-lhe o novo cônsul, auto-proclamado protector da vila em nome de Sua Majestade e do povo, a sábia fala: «como alistar-me, se o novo governo não tem inimigos?»
O conto de Machado de Assis, é a história da revolta popular contra o alienista Simão Bacamarte, que lentamente esvaziava a cidade da sua população sã, em todos descobrindo loucuras, internando-os.
Lei da natureza humana, a que a experiência do padre Lopes absorvera, «dentro de cinco dias, o alienista meteu na Casa Verde cerca de cinquenta aclamadores do novo governo». Um outro barbeiro surgiria dizendo abertamente pelas ruas que o Porfírio estava vendido ao outro do Bacamarte. Duas horas depois o Porfírio, médico que estudara por Coimbra e Pádua, com banca agora em Itaguaí, onde se enraivecera no encarceramento das patologias cerebrais, caía.
Descobri isto entre os livros que tenho para acabar de ler. Daqui a pouco vou fazer um esforço e tentar ler jornais, para ver como vão os Bacamartes e os barbeiros no nosso país de encarcerados.