27.4.09

Argumentos e factos

Normalmente não leio muito jornais. Mas desta vez comprei e acabei por afunilar para domingo à noite a leitura de um semanário, um diário e duas revistas sem história. Vinha também carregado com livros e mais umas publicações que nem sei bem como chamar-lhes. A esta hora ainda a leitura não acabou. Se tivesse a oportunidade de ir dar uma volta pela blogoesfera teria pela frente ainda muito mais para ler. Mais os jornais on line, o twitter, os sms e bom não esquecer o que chega por email e as pessoas que dão notícias pelo telefone.
O mundo contemporâneo é, em suma, um mundo de factos. A pergunta é: quantos factos me interessam de todos aqueles outros que me chegam ao conhecimento?
Por exemplo. O suplemento sobre economia do Expresso titulando «Hilton processada por espionagem» dá conta com largura de dois terços de página, que [e assim reza o lead] que «ASAE apreende n Hiton de Vilamoura ficheiros confidenciais do Sheraton Algarve. Uma réplica do escândalo que abala os gigantes hotéis nos EUA».
Vejamos. Eu já nem me pergunto sobre se será verdade ou mentira o que o jornal relata, se a história está bem ou mal contada. A dúvida é só esta: interessam-me saber isto? É-me útil esta informação? Faz-me falta, para quê? E a ideia a ela subjacente, o conceito de que as empresas comerciais se espiam, tenho-o já adquirido ou é preciso ler a notícia para ficar a sabê-lo?
Mas se fosse só isso! Sigo pelo jornal fora, passo para o diário, folheio as revistas: é a vida privada de um, a fatiota de outra, os implantes mamários de uma terceira, duas páginas com foto a uma menina que fundou um clube de virgens, uma breve a informar-nos que Isaltino diz que Marques Mendes não existe. Ah! E as crónicas, os artigos de opinião, comentários, análises, tudo muito extenso, muito carregado de saber e de afirmação. Para quê? Posso saber?
O que quero eu dizer? No fundo que não me apetece ler mais! Já confundo tudo, não fixo nomes, e no meio desta babel fica-me a última coisa que li. Teresa Caeiro, deputada pelo CDS disse na Assembleia da República: «alguns revolucionários de ontem são os poderosos de hoje, com a original diferença de se comportarem como novos autoritários». Bingo! Já me passou a azia de factos, com uma tão borbulhenta opinião! Claro que isto é ler jornal para encontrar aquilo com que se concorda. Talvez. Antes isso do que ler jornal para me cruzar com o facto que não me interessa e ficar iludido a pensar que, ao menos estando informado, estou a participar neste mundo inenarrável.
Argumentos e factos, eis o nosso mundo; é além disso o título de um jornal russo, que anda por aqui.