27.2.10

Um vento asssassino

Não são as raivas humanas, os escândalos da política, a babugem anã dos salões e sua maledicência.
É a Natureza, fonte e fruto de tudo quanto vive, a desabar, em sismos e enxurradas, violenta, transformadora, como a querer aniquilar o que está para o tornar no que poderá ser.
Há um vento assassino a formar-se nos ares, exala-se um inesperado calor onde ontem se enregelava, as entranhas da terra a prometerem fogo depois de gelo.
Visto à escala cósmica, é apenas um tossicar breve do mundo tal como o conhecemos. No meio disto, povoa-nos a fauna humana atrevida, e entre ela campeia a ousadia dos rapinantes, esfacela-se o patético dos libidinosos, os primeiros a esconderem pelo gamanço os segundos pelo exibicionismo a sua incapacidade de chegarem lá por outros meios, e tudo dorme, indiferente, narcotizados pelo medo, pela preguiça, embriagados pelo desmazelo.
Pela rua do putedo, chulos rapinam o que podem. No meio do alvoroço, a farda encharcada, um polícia faz de conta que este aqui, filado pelos gargomilos, são todos os outros.
Há um requiem da almas penadas, místicos sem êxtase, em busca de uma fé, à mercê da caridade.