16.8.10

A vida sobejante

Pela noite sente-se o seu pesado arrastar. Levam no seu bojo o resto, os sobejos e os remanescentes, o que já não se quer, o que nunca se quis. Há neles o que tantos desejariam, o que muitos nem sabem que existe. Em alguns fins de jantar é um festim de desperdícios. Muitos chegam cheirar bem. São a demonstração da generosidade involuntária, da oferta inútil. Às vezes homens e cães lutam pela posse das suas entranhas. Irmanados na necessidade, rosnam contentamento. Depois esvaziam-nos indiferentes homens nocturnos, madrugadores, profissionais da remoção. Uma vida sobejante termina na nitreira. No dia seguinte recomeça o ciclo da podridão.