13.12.10

Neo-realismo

Era domingo e chovia. Mas fomos visitar o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. Para mim uma vez mais, mas sempre uma primeira vez. Rever o que foi a luta cívica e a sua expressão na arte. Capas de livros que são marcos desse combate. Filmes, músicas, pintura, tapeçaria. A batalha pelo conteúdo, pelo significado, a batalha pela forma, pelo significante. E lembro-me que ainda apanhei os estilhaços dessa polémica:os que achavam que a Arte não podia ser panfleto, evitando ser ideologia para poder ser política por outros meios. Ali estavam tantos, mesmo um que veio, cordeiro arregimentado, da Mocidade Portuguesa, outro que se perdeu, cavalo em espanto, pelo labirinto do dadaísmo ou coisa como tal sentida.
Procurei-a, porque tinha de estar, a Seara Nova, ainda de capa singela, sem imagem nem cor, a Vértice, obrigatória, de Joaquim Namorado.
E ei-lo, ali estava, "António Vale", uma das mais lúcidas inteligências que o País produziu, carácter temperado a aço, a pôr ordem naquelas desordenadas hostes, em que também vogavam boémios improdutivos e reprógrafos burocratizados, a mostrar caminho, como se houvesse uma moral superior dos artistas que desse disciplina e clarim àquele pequeno pelotão. Foram poucos, mas tinham uma consciência social e uma cidadania a cumprir. O culto da personalidade era uma perversão. Hoje entrou na moda, o individualismo burguês a torná-lo exibição e espectáculo indecoroso.