15.10.11

Bon chic, bon genre

Confesso que o homem me irrita. E confesso que ainda mais me irrita a corte de quantos o deificam, nele vêem o Catão das virtudes, o Moralista por excelência, o Polícia dos costumes. E acreditam que o dizer mal de tudo decorre de uma pureza de alma e de uma coerência de carácter.
Não é só ele. Há pelo País uma pleiade façanhuda de gente mal disposta e mal encarada que, por um lado, têm sempre opinião sobre todas as coisas e, segundo, se julgam o relicário das virtudes. E com lugar cativo na imprensa, doutorais e papais.
Um dia passo-me e conto a história pregressa do Vasco Pulido Valente Correia Guedes. Do que fez para chegar a assistente de Económicas. E do mais e quanto tudo isso foi de vergonhoso e como foi a história de uma ambição feita método.
Dir-se-à que isso que eu contar foram estouvadices do seu passado juvenil, como o deveria mencionar a testemunha abonatória que então indicou à PIDE/DGS, nos autos ali abertos, a seu pedido, e chamados de revisão, o Dr. António Martinha, dos Serviços de Censura, colega na mesma do pide António Barbieri Cardoso.
Não! É que houve quem, nesses anos de chumbo, comeu o pão que o Diabo amassou e foi expulsa da Universidade e corrida de empregos públicos e até na privada se lhe fecharam as portas. 
Gente que aguentou firme, não delatou, não jurou fidelidade à Constituição de 1933, não traiu. Gente da classe média que ele hoje despreza, com a sua arrogância patrícia de bon chic bon genre, como se lê na sua crónica de hoje no jornal Público.
A farsa do diletantismo é o circo das democracias caducas. Nela há duas regras de vida: o epicurismo burguês e o desprezo pela criadagem. Que eles, os snobs malcriados, acham somos todos nós.
Detesto falar de pessoas. No caso falo de uma encenação.