Porque é que eu pressenti que este ministro Álvaro ia ser politicamente um flop? E que que cada intervenção sua, mesmo quando fala de coisas acertadas, é sempre um desacerto?
Já nem é o que diz, é o como diz. Há sempre um ar picaresco, que se não for ao puxar ao engraçadinho só pode ser uma insensatez. E o grave é que o estado do País exige aos governantes contenção verbal, rigor na expressão, severidade no tom.
Ontem foi a dos «pastéis de nata» e o não haver franchising desses suculentos prodígios da doçaria lusitana.
O ridículo não é ele ter falado «nas natas», assim se exprimiu referindo o dito pastel no feminino, como se diz pelo Norte, coisa que nunca entendi já que, nascido a Sul, também não digo «as quecas» mas sim «os queques», mas adiante.
O ridículo é a casuística da frase, como se de uma boutade se tratasse.
O ministro poderia ter falado em geral, aludindo aos produtos portugueses que bem poderiam ser comercializados no estrangeiro por serem únicos e passíveis de serem franchisados e todos entenderiam. Não seria o primeiro a ter essa ideia. Já no tempo de Oliveira Salazar o Secretariado para a Propaganda Nacional fazia o mesmo. Não teria de exemplificar, como se, adiantado mental, falasse para alunos atrasadinhos e eles não atingissem o ponto.
O que se passa é que ele não percebeu nem perceberá nunca que há exemplos que enfraquecem o argumento e lhe retiram categoria. E categoria é o que falta. E essa é a questão.
Por este andar, e a irmos na cola dos exemplos, em busca do que de portguês existe que o estrangeiro pode comprar em franchising - como os "Donuts" e a "Coca Cola" se exportam - que também citou mais uma vez a exemplificar, mau grado serem nomes de marcas e ser de péssimo tom um membro de Governo citar marcas por sentir que já nem se lhe aplica a decência do «passe a publicidade», que é o mínimo ético a exigir-se nesse caso, por este andar, dizia, vamos longe!
Mas, sou português. E armado de espírito patriótico, acordei esta manhã a pensar, contagiado pelo fervor do ministro que quer ser Álvaro. E lembrei-me do galo de Barcelos, essa magnificência simbólica do melhor que em galináceo a País produziu e seria um mimo em qualquer étagère de mansão requintada ou apartamento chic, o «hoje há pipis!», que levaria longe a alma lusa às terras do fim do mundo e, para não falar nos torresmos, nos couratos, nos pézinhos de coentrada, no pastelinho de bacalhau ou na chouriça de Vinhais, venha o barro das Caldas que esse mostrará, enfim, à Europa e ao Planeta que os Portugueses, apesar do Governo, mau grado o ministro da Economia, são um povo duro de roer.