23.12.15

Termo de encerramento


Comecei este blog em Dezembro de 2004. O título fui buscá-lo a um livro de Maria Ondina Braga, a quem hoje dedico um espaço e o desejo de o ampiar. Era nome de uma crónica que subscrevi no Diário de Notícias.
Desde aí mantive-o com alguma regularidade. Era aqui que depositava as minhas opiniões cívicas, tendo explicitado que isso era, na minha ideia, mover-me num terreno mais vasto do que o da política.
Com a passagem do tempo foi-se acumulando a ideia de haver tantos a opinarem sobre a vida social - e afinal sobre tudo e mais alguma coisa - que menos um não fazia diferença; além disso havia progressivamente mais comentadores encartados e com lugar cativo e, por isso, audiência segura, pelo que o que pudesse ir escrevendo - e tal sucedia cada vez mais ocasionalmente - ia pouco além de um aparte em casa de amigos complacentes.
A tudo isto junta-se hoje a incapacidade completa de me entender com o que se passa na vida política do que se chama ainda "democracia" e que pode ser tudo mas não é seguramente a participação activa da colectividade na vida pública: partidos que pareciam ter perdido eleições e afinal governam, partidos que afinal saíram, como se derrotados, mas que apoiam o que parece liderar a governação, coligações que não se esperavam mas que permitiram chegar ao poder e que, uma vez neste, desamparam o partido com que se coligaram; tudo mais a completa ausência de ideologia, os programas dos partidos a nada terem a ver com aqueles com que se apresentam a eleições e ambos muito diferentes face ao que tornam programa de governo.
Restam as eleições presidenciais mas, confesso, sobre elas nem sei o que pense, nem sobre os candidatos e o modo como me vou dando conta do modo como se apresentam.
Dir-se-á que se trata de ingenuidade minha, pois que a política é afinal, isto mesmo, a indefinição, o arranjo de ocasião, a mutação permanente em nome do pragmatismo, o triunfo da realidade e não das ideias, menos ainda dos ideais.
Seja assim. Não quero ter razão. Tê-la seria significar que ela teria qualquer utilidade.
E por admitir que é assim que tudo se passa e por verificar que com tudo isto se convive mesmo com a apatia da abstenção eleitoral, retiro-me para o território do silêncio. Na vida pública ter para dizer é, pela manifestação da livre opinião, um contributo para um melhor futuro.
Não que a sorte dos meus concidadãos me seja indiferente, sim porque em consciência acho que, para além da lamúria moralista, pouco contributo trarei tais as perplexidades que tornaria crónica. Para isso era preciso que eu conseguisse entender-me com o que se passa e não sentisse este estado de alheamento.
Não direi que sou de um mundo de ontem. É verdade que na juventude dos meus vinte anos talvez o maniqueísmo com que fazia activismo me fosse mais reconfortante. Hoje, ante partidos que são expressões de revolta sem ideologia, movimentos espontaneístas sem história nem programa que, num ápice, partilham do poder a capacidade do mando, junto confusamente o pessimismo conservador ao optimismo revoltoso. E não tenho esperança. Uma profunda revolução talvez nos salve da profunda decadência em que caímos como civilização. Nenhum dos "ismos", tendo gerando hecatombes e carnificinas, se mostrou solução para a vivificação do Homem Integral.
A quantos tiveram a gentileza de ir lendo e tantas vezes tributaram palavras de generosa amabilidade aqui fica a expressão pública da gratidão. Há na vida pública um tempo para saber que o tempo deixou de ser o nosso tempo.