4.9.06

Os empregados e os ociosos

Há um português adora exprimir-se por meias-palavras, e dizer as coisas graves a meia-voz. É o português que vive a vida social como uma sacristia beata e o exercício da opinião como uma variante do confessionário. Vem isto a propósito dos desempregados.
Veja-se esta notícia: «No primeiro semestre do ano chegaram ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) perto de nove mil propostas de emprego para os desempregados ali inscritos. Segundo a edição de hoje do Jornal de Notícias, apenas 4.700 dessas vagas foram preenchidas por pessoas à procura de emprego (...) Perto de 4.200 postos de trabalho ficaram por preencher, apesar do total de desempregados inscritos no instituto rondar os 460 mil».
Ante isto uma pessoa pergunta-se: mas será que o desempregados não querem trabalhar?
Eis um porta-voz oficial a exprimir-se:
Além da falta de aceitação das propostas de trabalho feitas pelo IEFP, verifica-se ainda o o problema da falta de comparência dos utentes às convocatórias do instituto. Entre Janeiro e Outubro do ano passado 100 mil pessoas não compareceram no IEFP ou, se compareceram, não foram depois apresentar-se às empresas proponentes ou não aceitaram o posto, refere o jornal.
O presidente do instituto, Francisco Madelino, assume que «ter metade das ofertas (preenchidas) não satisfaz». Em entrevista ao JN, o responsável enumera cinco motivos: «primeiro, um desajustamento entre as qualificações dos trabalhadores e o que as empresas desejam; depois, vêm parar aos centros de emprego muitas ofertas com remunerações muito baixas; há também diferenças de expectativas entre os mais jovens e a realidade do tecido produtivo, cujas ofertas não são condizentes com as expectativas das pessoas; também há problemas de mobilidade geográfica; e, não vamos ignorar, em que a relação com o subsídio de desemprego não joga a favor».
É notável. O que este senhor Madelino quer dizer com esta do «a relação com o subsídio de desemprego não joga a favor» ´é seguramente que há uma cambada de parasitas que, vivendo à conta do subsídio de desemprego, não está para se ralar a trabalhar. Só que di-lo assim, melífluo, doce, sussurante e sibilante, politicamente correctíssimo, claro.