7.4.08

A GNR apaga os seus buracos

Se calhar já veio nos jornais, mas eu leio poucos jornais; se calhar já muita gente falou nisso, mas eu, salvo por razões profissionais, falo com relativamente pouca gente, ao viver bastante isolado.
A verdade é que fui jantar pelo Largo do Carmo e reparei que o edifício da GNR estava rebocado e pintado e que sumiram os buracos das balas disparadas pela coluna do capitão Salgueiro Maia quando ali estava sitiado no dia 25 de Abril de 1974 o Professor Marcelo Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, que, para que o poder não caísse na rua, entregou o mandato que não detinha - pois o Chefe do Estado ausentara-se - ao general António Spínola, que só a Revolução em curso legitimou que o recebesse assim de pessoa a pessoa.
Tudo isso é História e não há reboco nem tinta que a apague.
Se a GNR se sente envergonhada ou honrada por ter sido metralhada pelos militares é uma questão de honra que tem de dirimir. Manteve-se fiel a um regime legal, que a Revolução fizera perder a legitimidade. Mas a GNR faz como tantos outros de diversos quadrantes: branqueiam a verdade do que se passou. Agora que se clama por aí que tudo deveria ser criminalizado, que tal criar no Código Penal um crime de «branqueamento da História», a ser investigado com absoluta prioridade, segundo a próxima Lei de Política Criminal?
Quanto à sede da PIDE, que colaborava com os militares na guerra em África, e de quem o Marechal Costa Gomes, sucessor de Spínola na Presidência da República, havia recebido o «crachat» de ouro, essa já está totalmente transformada em local de «charme». Um dia, em vez da pouca História que se ensina nas escolas aos nossos meninos, lecciona-se Arqueologia Portuguesa, a começar pelo 25 de Abril.