24.4.11

Quando o lobo acordar

Parecerá arrogância, mas a cidadania é feita do direito e do dever de cada cidadão exprimir o que pensa. Porque cada homem é um voto.
Lamento concluir mas nenhum dos dois partidos que têm sido Governo me oferece confiança para poder acreditar que têm soluções para Portugal. Lamento concluir que as poucas pessoas com valor que restam neste País não arriscam o que seja para se mobilizarem para a causa pública.
Aqueles partidos não têm dirigentes credíveis, estas pessoas não querem fazer perigar os seus interesses ou o seu bom-nome. A calúnia passou a ser arma política, a vantagem pessoal o seu móbil.
A linha da frente da vida política em Portugal está entregue pois aos que só têm a ganhar porque nunca tiveram muito a perder. É o mundo do arrivismo. A retaguarda que os sustenta é a apatia dos que se vão safando nos interstícios da economia paralela e do mundo dos expedientes, mais o empreendorismo manhoso dos que se encheram com a especulação privada e com a depredação do Estado.
De quando em vez surge um que parece um bem intencionado, altruísta e desapegado. Em breve se mostra um Nobre de nome.
Há, claro, os ingénuos úteis, os que ainda acreditam e militam ou até simplesmente votam. E os indecisos e a abstenção, o maior partido português.
Que Portugal tenha uma solução, terá. No imediato vai ter um Governo comandado pelos credores, assim como até aqui era governado por funcionários de Bruxelas. Passámos a ser uma Nação entregue a intendentes. Na hora do voto escolheremos empregados julgando-os senhores e sonhando no momento do voto que somos donos do nosso destino.
A urna passou a ser eleitoral e funerária. Através dela a democracia vai agonizando, sangrada por aqueles partidos que a aprisionaram.
Passadas as férias da Páscoa e a tolerância de ponto Portugal entrará na via sacra. Lentamente a dor das privações vai fazer-se sentir. O baile tresloucado e ébrio do crédito sem garantias e do calote consentido vai dar azo ao fim de festa e à ressaca. A classe média, endividada até ao tutano, será a primeira a ajoelhar. É dela que surgem historicamente os sentimentos de revanchismo, sementes das comoções políticas que desembocam em tragédia. O proletariado aburguesado pelo sindicalismo interesseiro não vencerá as contradições das suas ambições medíocres, de que um plasma para o futebol compra a alienação.
O egoísmo europeu mostrou já a sua face. À Europa lírica, dos passarinhos multiculturais, sucede um cerrar de fronteiras e a defesa do espaço vital das potências do Eixo franco-alemão. Não é essa agremiação de interesses que nos salvará. A Sociedade das Nações imaginou no seu tempo que não haveria mais guerras. Com o Tratado de Versailles a Europa imaginou que conteria a Alemanha pacífica e longe do mar. Um dia o lobo acordou esfomeado. As pegadas do ódio multiplicaram-se  na terra fértil do anseio de ordem e de orgulho nacional.