13.10.13

O amor e a raiva


O Natal é período difícil para muitas pessoas, porque lhes traz recordações de uma infância triste ou porque arrasta memórias da perdida felicidade que existiu na infância; para tantos porque lhes volta a ideia dos duros dias de Natal que tiverem de viver ou proporcionar.
Este ano, porém, à mercê da política financeira e fiscal do Governo e do descalabro que isso provocou na economia, tudo piorou severamente. E não é a ilusão que criam aqueles que, pela fortuna que não lhes faltou ou pela irresponsabilidade que neles continua, ainda ostentam bem estar e até opulência, que se pode dizer que não grassa na esmagadora maioria miséria,  fome, privação de toda a espécie.
Por isso mesmo choca a sensibilidade dos que a têm estarmos em Outubro e algumas lojas atestarem-se já de decorações de Natal, entrar-se em parques públicos de estacionamento e estarem animados com música de Natal.
Dir-se-à no primeiro caso que é a ânsia de venderem, antecipando a época, assim como anteciparam a dos saldos, e no segundo que é para trazerem a doçura da paz e do amor que o Natal simboliza àquelas lúgubres caves onde se arrumam automóveis.
O efeito é, creio, exactamente o oposto ao pretendido: uma mistura triste de desconsolo e raiva.
Sem se imaginar caminha-se no limite do precipício.
Amansados pelo fatalismo que os caracteriza, os portugueses têm consentido ao Governo tudo, protestando embora. Os próprios funcionários públicos, de que o Governo se serve como mastins na agressão aos seus concidadãos são tratados com cada vez mais desprezo vil, porque o Governo julga que, mesmo na penúria, continuarã fiéis e servidores, ante o medo de perderem o que resta, o próprio emprego.
É a fase terminal dos impérios em descalabro, em que os senhores conduzem a guerra com soldados já em farrapos, maltrapilhos esfaimados às suas ordens, julgando-os obedientes. 
Há, porém, um dia em que se vira a fome do cão contra a fartura do seu dono, despedaçando-o à dentada com a justa ira do sofrimento.
É que as fortunas de que se encheram os que estão no mando conseguiram-na através daqueles que hoje espezinham. Os governantes são apenas os seus comanditários.

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