25.12.12

O joker

Num país de ignorância mal disfarçada pela erudição, num país em que mesmo a suma instrução conduz ao desemprego e a total falta dela ao Governo, num país em que a pompa retórica é a circunstância até em simples crónica de jornal, num país em que ser Dr. é a pedra de armas do plebeu vaidoso e o Dom aristocrático foi regiamente vendido a saldos como comenda e prebenda, num país que googla um saber fingido para se dar ares, de entrevistadores que ao perguntar preferem fazerem-se ouvir, num país de analistas políticos arvorados em fazedores de opinião, num país em que a História, como verdade, não se ensina e, como propaganda, se trafica, falsificada, num país de fancaria feita porcelana e de cacos a passar por cristal, surgiu um homem que com tudo gozou, o burlesco que somos, o patético que parecemos.
Invocar o nome das Nações Unidas mais do que símbolo de uma mentira histórica - pois foram a união das nações vencedoras em 1945 e o forum actual das nações desunidas - é a demonstração final de que antes isso - na ânsia de acreditação e de verosimilhança - do que citar-se como se vindo da União Europeia, o aerópago caduco em que ninguém acredita e em que todos fingem crer.
Este homem não é um mentiroso, ele é o ícone da mentira, ele não é ele próprio, sim aquilo em que nos tornámos.
O mundo do parecer tem nele expoente, o culto da imagem, expressão.
No teatro de falsetes em que se tornou a política, ele poderia ser mais um dos robertos. Tem a pose, a aparência, o estilo. A seus pés, o mundo da comunicação bebeu-lhe os ditos, o chic do Chiado abriu-lhe os salões.
Risos, pois, gargalhadas até ao engasgamento, ao rebolar, aos urros, aos espasmos, à epilepsia total deste país demencial.