28.2.06

Jorge, obrigado!

Manuel Villaverde Cabral diz de Sampaio que deixa, na hora da despedida, «uma imagem baça, de um Presidente sem brilho». Talvez, mas já se sabia que assim seria quando o escolheram, nele votaram e andaram a apaparicá-lo muitos dos que agora dizem mal. Pois já que o homem se vai embora, haja ao menos a cortesia de uma palavra simpática. Por exemplo: Sampaio aceitou nomear Santana Lopes para primeiro-ministro, mas acabou por pô-lo na rua! De modo baço talvez, sem brilho porventura, ouvindo tudo e todos e muitas vezes, mas lá o despachou. Nisso o seu sucessor tem a vantagem de não ter um tal personagem pela frente! No mínimo, ficamos-lhe obrigados por isso. Perdoamos-te o mal que sabes pelo bem que fazes!

27.2.06

Gémeos editoriais

Com 36 milhões de macacos! Então o Código Da Vinci é um plágio? E eu a pensar que a cultura era, até agora, uma forma de, através de um escritor, um livro numa estante se juntar a outro e gerar um terceiro, numa espécie de reprodução assistida que aumentava exponencialmente a demografia editorial. O que eu não sabia é que por vezes surgiam gémeos. Iguais ou muito parecidos, pelos vistos!

Um país pouco recomendável

Há mesmo por aí a mania das estatísticas. Com Jorge Sampaio a sair de Belém houve quem se entretivesse num esforço ridículo de fazer contas, medindo a acção do Presidente pelos números em que se traduziu. Claro que lá tinham que vir as 113 visitas ao estrangeiro em contraponto com as 15o de Soares, mais as 107 idas ao Porto tripeiro e as 38 a Sintra das queijadas. Seria interessante era apurar o que se ganhou com tanta quilometragem mas, sobre isso, já nem os analistas querem saber. Mas o que é curioso é o número das condecorações. Segundo a prestimosa Lusa, «tendo condecorado 1.896 pessoas nos seus dois mandatos (deverá ainda entregar aproximadamente mais 30 comendas até 09 de Março), Sampaio fica aquém das insígnias atribuídas por Mário Soares (2.448) e Ramalho Eanes (1.952)» Com tanto comendador, é caso para dizer que o país não está mal, recomenda-se é pouco, é o que é.

26.2.06

Isto nem à chipada!

Ora aí está. Uma discoteca em Barcelona, segundo vem na imprensa, «apresentou um sistema de identificação implantado sob a pele, um chip digital que permite ao seu portador aceder ao local sem apresentar documentação e sem ter de pagar o consumo». Se a moda pega é a generalização do sistema, mesmo para os momentos mais íntimos. Já não é o legítimo cônjuge a perguntar ao outro o embaraçoso por onde é que tu andaste. É que nestes tempos de inquietação sexual, com um preservativo chipado, um cidadão nem escapa a que saiba a quantas anda e se acedeu ao local onde teria de pagar o consumo.

Os blogs do JAB: ordo ab chaos!

Dia de arrumações, criei um blog em que, dizendo de quem se trata, deixo, de modo arrumado, a lista dos blogs que criei e o modo fácil de saber em que dia os actualizei. A partir dali linkam-se todos. Não é que eu tenha muitos leitores, mas acho que lhes devo ao menos o respeito de me organizar. O blog tem o meu nome e encontra-se clicando aqui!.

24.2.06

E Alegre se fez triste

Alegre anda triste, porque no PS o tratam como inimigo. Já ninguém se lembra do que fizeram a Salgado Zenha. Ele há os inimigos, os inimigos de morte, e os inimigos de partido, por esta ordem de inimizade. No PS nada como os Jorge Sampaio e os Vitorinos, que nos tempos do MES e das UEDS cobriam de insultos o PS em que acabaram por prosperar. Há no PS um milhão e duzentas mil razões para se inimizarem com ele: não é nada de pessoal, não é uma questão de honra, é só por uma questão de interesse.

23.2.06

A minoria insegura

Uma empresa seguradora anda a distribuir publicidade anunciando apólices de seguro de animais domésticos. A coisa parece-me atraente e até a mim, na minha condição de animal, me tentou a ideia, sobretudo naquela parte em que garantem, como elemento da cobertura do risco, a «publicação de anúncios em caso de desaparecimento», tal é a minha vontade de me raspar para fora do canil em que isto se transformou. Uma só faceta me deixa intrigado. É a parte do anúncio em que, num estilo convidativo, dizem: «venha conhecer as soluções à medida do seu amigo de 4 patas». Ora ante isto, o periquito da tia Vicência, a catatua da Lurdinhas, a centopeia do Zéquinha, e a jibóia da sogra do senhor Marques, quem é que os segura? Esta noite já tenho programa, estudar juridicamente esta história: isto só pode ser discriminação a favor dos de quatro patas. Compreensível, seguramente, mas inconstitucional, sem dúvida! Lá por a maioria ser quadrúpede, respeite-se o direito à diferença!

22.2.06

«Coração acordeão»

Há hoje uns maníacos das estatísticas que contribuem para a boa disposição do pessoal. Um tipo anda zangado com o mundo, ou por lhe apetecer dormir e brincar e não ter tempo, ou porque lhe apetecia ver a trabalhar os que levam a vida a brincar e a xonar. Mas chega-se a casa vê-se a imprensa e é logo um oásis de alegria. Calculem que chegaram agora à conclusão que as doenças cardíacas em Portugal custam «163,5 euros per capita». Quer dizer, por cada enfarte, por cada aneurisma, por cada trombose, em suma, por cada AVC, é mais um a meter a mão no bolso da malta! Ora o próximo mendigo que, plantado à esquina do engate caritativo, me vier, com a mão estendida e a voz tremente, com a cantiga do «apelo ao seu bom coração!» já sabe! Chamo a polícia! É que, com tanto cardíaco por aí à solta, ao menos o meu coração que resista! Se não vai tudo ao charco e lá vai mais um ser fonte de despesa para o resto dos contribuintes!

21.2.06

Ó vizinha!

Deve ser ignorância minha, mas ao ler que Portugal outorgou com a Argélia e a Tunísia um Tratado que se chamou de «Amizade, Boa Vizinhança e Cooperação» a coisa cheira assim a Aldeia da Roupa Branca. Eu sei que a nomenclatura diplomática tem as suas especificidades e a imaginação legislativa não tem limites, mas não se arranjaria melhor terminologia? Eu sei que Portugal é uma aldeia, o Mediterrâneo é um lago, e esta do «ó vizinha, acabou-se-me o gás», pelo menos em relação à nação argelina talvez faça algum sentido. Deve ser isso!

19.2.06

Smoking gun

Pensava eu que os da Grã-Bretanha tinham uma raiva contida aos da União Europeia. Só que em Londres, à espera do avião sempre atrasado, lembrei-me de trazer uma tira de cigarros, para oferecer. O pacote trazia em letras garrafais que fumar mata! Ao passar pela caixa, a menina, sorridente e eficiente, surpreendeu-me dizendo que não podia levá-los para a União Europeia. Nem para os matar a todos perguntei-me para dentro, envergonhado de lhe colocar a questão. I am afraid not responderia ela, com aquela polidez very British. Please try Zimbabwe.

18.2.06

Os Marretas

Há momentos em que ao olhar para a situação do país governamental me lembro da piada dos dois velhos sardónicos da série «The Muppet Show»: «antigamente este programa era melhor!», dizia um deles com ar convicto. «Porquê?», perguntava o outro seu companheiro de camarote. «Porque não existia!», rematava o autor da graça que, levada a sério, e pensando no desgraçado país que temos, não tem mesmo graça nenhuma!

15.2.06

De uma tal boca

Vi há bocado na televisão o Francisco Louçã a falar sobre a necessidade de haver uma política de sensatez e de prudência. Era a propósito das caricaturas. Só podia ser.

14.2.06

Um homem confiante

Diz a imprensa que o ministro do Trabalho e da Segurança Social está confiante em que inverta o actual aumento do desemprego. Só que o ministro não diz porque está confiante. Por mim, penso ter descoberto mais do que a causa do optimismo ministerial, a verdadeira razão do fenómeno do aumento de desempregados. É que o Ministério que ele por ora dirige, e que agora tem aquele nome, o do «Trabalho e da Segurança Social» já se chamou Ministério «do Emprego e da Segurança Social». Se calhar foi por causa disso. Ao terem-lhe cortado aquela parte da coisa que é o nome, deram nisto: num ministro que, por falta de instrumentos só pode estar confiante. É que eu sei que ele é ministro do Trabalho. Mas tratar de trabalhadores que não têm onde trabalhar, por estarem desempregados, essa só mesmo com muita confiança!

12.2.06

Amor cardíaco

Segundo estou a ler, agora que é domingo à noite, a Federação Mundial do Coração, depois de estudos seguramente exaustivos, estatísticas naturalmente fiáveis e inquéritos com certeza ponderados, concluiu que o coração mata mais mulheres do que qualquer outra doença. Eu, que sou por vocação um espírito que de científico pouco tenho, já havia chegado a igual conclusão, este domingo à tarde, ao continuar a ler os «Gémeos» do Mário Cláudio quando, na página 43, a propósito do Dom Francisco ele escreve: «como cresce um homem à custa dos corações que consome».

11.2.06

O pastel de nata

Tentando argumentar quanto ao que pode ser uma política comercial de sucesso, Ernâni Lopes adiantou o exemplo do pastel de nata na Ásia. Por mim, esgotadas ideias melhores, e visto que os queques não conseguiram na nossa modesta «city» levar o país financeiro a melhor, sugiro que o Governo, através do ICEP, tente agora um plano integrado em relação a outros produtos típicamente nossos, como os galos de Barcelos, os fradinhos das Caldas e o licor de porra. Duvido que haja quem consiga competir. É só ir por aí de feira em feira recolher exemplos. A coisa bem organizada ainda conseguimos entrar no G7.

10.2.06

Sampaio, inesperado

Jorge Sampaio anda pelo norte do país em digressão oficial e inesperadamente surgiu onde menos se esperava: Nelas. Explicou-se dizendo que o segeredo era para evitar conflitos. Francamente não percebo! É que quem não quer problemas, não se mete nelas.

O Carmelo fiscal

Lê-se na imprensa que o Ministério da Justiça vai instalar em Aveiro um juízo tributário, num Convento de Carmelitas. A coisa tem o seu quê de simbolicamente preocupante, pois que ele eram os Carmelitas Descalços e por este andar é assim que os contribuintes por ali andam.

As escutas e o varejo

A imprensa vai dando conta: meses a fio de escutas telefónicas, milhares de horas de escutas telefónicas, tudo legal, tudo judicial, tudo quanto a um meio de prova que a lei disse ser excepcional. No antigo Direito havia a devassa geral, no Direito Administrativo sobeja a sindicância. São formas de varejar de alto a baixo, aqui as repartições públicas, ali a vida privada de um cidadão. A ideia tem reminiscências inquistoriais. Também nos tempos da Congregação para a Polícia da Fé, a pretexto de um pecado, queria-se apanhar sempre toda uma heresia. Leio isto e leio também que a Sonae pretende comprar a PT. Acho isto tudo um ilogismo. É que com esta quantidade de escutas aos telefones, ao engenheiro Belmiro de Azevedo ficava-lhe mais barato lançar uma OPA sobre a PJ: mais dia menos dia apanhava o sistema telefónico todo.

9.2.06

Volto já

...isso mesmo, volto já...

7.2.06

E eu para aqui neste Estado!

Eu penso que o povo não aguenta. Primeiro foi o quererem os políticos mais próximos dos cidadãos. Agora é Jorge Sampaio a querer a Administração Pública mais perto dos mesmos infelizes cidadãos. Se isto tudo passar das palavras às intenções e destas aos actos, a vida torna-se um inferno. Um tipo acorda de manhã, ainda meio alquebrado de uma noite curta, e cruza-se, a caminho dos lavabos, com o seu eleito local, que lhe veio desejar bom dia e perguntar, pressuroso, se ele precisa de alguma coisa. À saída do duche, ainda meio húmido, eis o técnico camarário das águas e efluentes a perguntar se o banho estava quentinho e o jacto em boa pressão. Ao chegar ao café, por lá já anda, antes das oito da matina, o fiscal dos géneros alimentícios, ou como é que agora se chama, em cima dos pastéis de massa tenra da véspera. Na carreira 28, se não for com os funcionários do seu bairro fiscal ao colo, leva com os dos serviços municipalizados empastelados na hora de ponta. Enfim é o cerco total. Com o Estado às costas, a Administração central e a descentralizada às canelas, a local e a regional à ilharga, os institutos públicos à garupa, os serviços autónomos filados nos gargomilos, o pobre cidadão, ratando uma hora de almoço para uns rápidos amores clandestinos e venais, descobre, na enxerga manhosa da feia pensão do despacha-te e anda, que os braços acolhedores pelos quais tanto sonhara, em devaneios clandestinos e sonhos proibidos, são de alguém que, ciciante, lhe murmura ao ouvido a palavra que lhe solta a animalidade feroz da loucura final e homicida: filho, desculpa, agora é o preço do serviço e mais IVA, sabes com é, o Estado não perdoa.

Uma questão de corte

Só 33% dos portugueses mostra desejos de poupar, segundo um desses estudos sobre os nossos hábitos que de quando em vez são notícia. Na lógica dos números o que se conclui é que os outros querem lá saber. Hoje de manhã, ainda não eram oito horas, cortava eu o cabelo a uma hora matutina, no pouco tempo de que disponho para cortar o pouco cabelo que me resta, ouvi o presidente de um banco dizer que os lucros da banca se devem aos altos padrões de qualidade e organização da mesma. Hoje à noite, já de cabelo cortado, ao ver estes 67% que só pensam em gastar, começo a duvidar se a riqueza bancária não decorre da pobreza de muitos dos seus clientes, pobreza mental sobretudo, daqueles para quem, enquanto houver, que vá! Muitos terminam como eu, completamente rapados!

5.2.06

A justiça do Cabeção

Eu sei que há em todos os ministros da Justiça aquela ideia de canalizador, a de desentupir os tribunais. Mas foi no Cabeção, onde se come, aliás, prodigiosamente, que eu vi que há uma outra profissão que pode dar uma ajuda ao sistema. Um tipo de uma vulcanizadora local afixou papel no restaurante da terra, a avisar os caloteiros que, ou pagavam até certo dia, ou afixava a lista dos devedores. Ora assim é que é. Se o ministro da Justiça passa por ali, e é colhido pela ideia, ainda adita, em rectificação ao Diário da República, mais uma medida de simplificação para a justiça cível: melhor que a acção sumaríssima, ou a injunção, só mesmo a lista dos cães. É só ir ao Cabeção: remendam-se os furos nos tribunais e ainda se come sopa de pombo. De chorar por mais.

4.2.06

A grande ronda!

Agora, até já é no PSD que muitos activistas do sindicalismo judiciário, vêem alguma esperança ante o que temem que lhes faça o PS. Como tudo muda neste mundo! Marques Mendes começa a ronda já na próxima semana!

3.2.06

Dois em cinco

Reza o DN de hoje que «a produtividade da indústria portuguesa é de longe a mais baixa da União Europeia a 15, estando reduzida a cerca de metade da registada no país europeu mais próximo, a Grécia, e a quase um terço da Espanha».
Uma pessoa lê isto logo pela manhã e começa o dia desanimado, façanhudo, sem vontade sequer de ir trabalhar.
Mas o jornal da Avenida da Liberdade não se fica por aqui e dá aos portugueses um pouco de ânimo, acrescentando, em nome do rigor e de uma visão rósea do mundo: «no entanto, ainda há motivos para esperança, uma vez que as causas para o atraso português estão concentradas em apenas dois dos cinco factores utilizados para calcular a produtividade industrial dos países».
Ora ao ler este parágrafo, eu pessimista congénito, atirei-me, ávido, ao resto da prosa, sobretudo na ânsia de saber o que nos falta, mormente quais os dois que nós não temos e aos outros sobram.
Esforço compensado, vem lá explicado! É que, continua o DN «ao nível do capital humano e da capacidade de gestão, Portugal está em grande desvantagem».
Ora aí está, qual desapontada mulher na cama para o marido embaraçado: filho tens tudo o que precisas, faltam-te só são aqueles dois. E sem esses, compreende-se, amor, que estejas em baixa.

2.2.06

O perigosíssimo trique-trique

Uma revista de hoje vem dizer que na Presidência do Conselho está montado um perigoso sistema ilegal de informações, tudo na dependência directa do primeiro-ministro. Clandestino não será, pois lendo a revista, sabe-se onde fica, quem o dirige e até quem serve tal serviço. A coisa vem embalada com um alerta vermelho aos direitos liberdades e garantias. Oxalá não seja um grupinho a recortar jornais e a coleccionar fofocas! Há políticos que adoram isto, saber o que se diz e o que consta. Cuidado, porém! É que se for eficiente, o servicinho tem os dias contados. É que há coisas que é melhor não se saberem.