29.4.06

Edita-se e rente...

No jornal «Expresso» houve quem desse nota negativa ao director de uma estação de TV por não ter «editado» uma entrevista que terá passado com grande êxito e não ter assim impedido que o entrevistado tivesse referido o nome de certas pessoas. Leio este facto fantástico deste admirável mundo novo. Fossem outras as pessoas visadas, outro fosse o entrevistado, tivesse o dito director ou outro director, ou um qualquer jornalista, repórter ou estagiário, daqueles que ficam ao sol e à chuva por uma migalha de informação, «editado» uma frase ou uma fala, ou uma palavra sequer, a um qualquer outro entrevistado que tivesse referido quaisquer outras pessoas, era o fim da picada! De censura a coisas piores, dentro do espírito da mais fraterna camaradagem, enchiam-no de pontapés, na primeira página se preciso fosse. Ora aí está como as coisas são. O velhinho «Botas», Salazar de seu nome, é que não se teria lembrado de melhor. Em vez da odienta «comissão de censura», chamava-lhe «comissão de edição». Mantinha os coronéis e o lápis azul, pois não se muda o que é igual. Quem ler isto, escusa de vir com graças sobre eu estar a falar deste ou daquele caso. Fique claro! Estou a falar sim deste e daquele princípio, o da liberdade de expressão. É que uma coisa é certa, e é a lei que o diz: se os entrevistados falam demais, cabe aos tribunais puni-los, não cabe aos directores «editá-los». Foi para isso precisamente que se fez o 25 de Abril.

25.4.06

A custódia

O jornal «Público» não leva à primeira página o 25 de Abril, mas sim os 500 anos da Custódia de Belém. Lá dentro, entre muitas folhas, o advogado José Augusto Rocha explica a Paula Torres de Carvalho que foram os militares do Conselho da Revolução quem permitiu a impunidade dos «pides». Você disse, «revolução», ó Barreiros?

Apresentar arma!

No dia 25 de Abril estando eu no quartel em Mafra, não vim para a Revolução pois os do MFA não confiavam no comandante do meu pelotão. E eu, que estava na tropa contra vontade, e em armas pesadas mau grado os meus leves 48 quilos, eu que poderia ter sido um herói de Abril, fiquei confinado à parada, a ouvir rádio e a sonhar com o que se passava e raivoso por não ter vindo. Tempos depois mandavam-me para casa. Tinham reconhecido que eu havia sido colocado naquele pelotão, para além dos meus poucos quilos, entre morteiros e canhões sem recuo, por causa de informação negativa da prestimosa polícia política do regime. Depois, chamaram-me para mais três anos daquilo, já em contra-revolução. Hoje comemoro mais um aniversário disso tudo. Já não tenho 48 quilos mas tenho uma coisa que não morreu: uma enorme raiva por não ter vindo, um enorme desejo de vir desta vez, entre morteiros e canhões, obuses se for preciso.

24.4.06

A movida

Não tinha reparado, alheado que ando de muitas destas coisas da nossa vida pública, que a Câmara Municipal de Lisboa tem um pelouro que é o de Vereadora da Mobilidade. Ora eu que por natureza, sempre fui contra o imobilismo, embora passe, recluso dos deveres, horas a fio sentado, na cela das obrigações, acho que na próxima mexida governamental, para dar um toque de dinâmica, já que é de mobilidade que falamos, o engenheiro Sócrates, devia criar o Ministério, já não diria da mobilidade, pois dava a ideia estagnação mental, mas sim o Ministério dos Semoventes. Primeiro, porque há muitos. Depois, porque andam à redea solta.

23.4.06

Bons nacos de literatura

«Há uma nova tendência, a literatura light está a passar de moda e a ser substituída por uma onda mais intelectual. Isso reflecte-se no espaço que esses livros ocupam nos expositores», diz a responsável na FNAC pelos livros. E eu, ingénuo de todo, a pensar que a literatura «light» era, tal como a comida do mesmo nome, uma forma de dieta literária adelgaçante das ideias. Afinal, é uma moda. Alegrem-se, pois ó gentes leitoras, voltam as gordinhas e as carnudas. O Luiz Pacheco inventou em 1972 a categoria da literatura comestível. Em breve, muito em breve, voltarão os clássicos com sustança. E então ler-se-à, lambendo dos beiços de luxúria, como em «A Cidade e as Serras» do Eça de Queirós: «Jacinto, desconfiado, provou o caldo, que era de galinha e rescendia. Há anos que o fidalgo não sentia aquela fome. E foi quando, abalando o sobrado, surgiu a rija moça de peitos trementes que pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz com favas».

22.4.06

O campo de concentração

A Feira do Livro terá este ano menos 23 pavilhões, mas segundo dizem os da APEL, a associação dos que editam e dos vendem, «o número de editores presentes nas feiras de Lisboa e do Porto será sensivelmente o mesmo». É que «os problemas de facturação em 2005 levaram algumas editoras a retrair-se». Li isto e percebi, enfim. A solução para a retracção foi a concentração. Corre-se pois o risco de cruzar a pálida freirinha que busca a mística Santa Teresa de Ávila com o vermelhusco libertino que anseia pela Filosofia da Alcova, o escanzelado estudante do «Cálculo da Resistências de Materiais», lado a lado com a anafada Ludovinha que, educada nas Casas de Santa Zita quer, enfim, o livro de receitas da Dona Maria de Lurdes Modesto.

20.4.06

Vai tudo por água abaixo!

O Governo está safo! A solução miraculosa, veio na forma de uma empresa de águas. Segundo acabo de ler, uma empresa portuguesa vai lançar uma água que faz emagrecer porque cria a sensação de se estar «cheio». Uma coisa destas resolve muita coisa. Primeira, são os que se enchem à conta da política. Basta pô-los em cura de águas, enchem logo e depressa. Depois há as vítimas da fome. Quanto a esses, metem-se debaixo de água. Fica enfartados e deixam de se ver.

O Governo avança sobre os avençados

O Governo vai acabar com os «avençados» desnecessários. É a lógica financeira, a de poupar despesa. É que há os «avençados» e os que estão «por conta». Quanto a estes, pois que, por terem sido necessários, não podem deixar de receber, de ora em diante será mais difícil pagar-lhes por avença. A não receberam à percentagem, pode pagar-se-lhes e à tarefa. Se não for pelo que fizerem, ao menos que seja pelo que houverem feito, se não me levam a mal o verbo haver.

19.4.06

As últimas da deputação nacional

Ora aí está tudo dito. O PS propõe que se marque falta aos deputados que faltarem [só] no momento das votações. Quer isto dizer, em linguagem simples e descodificada, duas coisas. Primeiro, que um deputado pode não pôr os pés no Parlamento o dia todo, tem é que estar quando se votar. Segundo, que daqui decorre que um deputado interessa pouco para quando o Parlamento discute e reflecte, interessa só para o levanta-senta que alguém popularizou de modo brejeiro como o «bate-cú» parlamentar. Se o sistema entrar em vigor, as direcções parlamentares é só organizarem as suas hostes. Combinam as horas em que se vota e organizam turnos de deputação. Afixa-se nos Passos Perdidos ou, para evitar aos pais da pátria terem de perder tempo a ir lá, põe-se no site da Assembleia: «Amanhã vota-se às duas». Não vale pena dizer no anúncio votar o quê. Quando chegarem a São Bento, vindo dos seus escritórios, Suas Excelências saberão ao que vão. Depois de contados, a um e um, votam, e zute que há mais que fazer! Então, o Presidente da Assembleia, poderá enfim dizer, no sombrio estilo regimental: «os senhores deputados que votam a favor, fazem o favor de sair...».

17.4.06

Wonder bra

O mundo académico não há dúvida que me fascina. Essa lógica da descoberta científica, que o Karl Popper axiomatizou no seu clássico «The Logic of the Scientific Discovery», dando-lhe ordem e concisão, não pára de me surpreender. Sabem, por exemplo, como é que se descobriu, agora mesmo que «os membros da Dinastia Liao, um Estado fundado pelo grupo étnico Khitan, eram bastante abertos e mantinham contacto com as regiões centrais chinesas»? Ao terem-se descoberto «fragmentos de um sutiã e um par de chinelos bordados com quase mil anos de idade», isto segundo a agência de notícia Xinhua. As peças, segundo a agência «alegadamente pertencentes a uma mulher nobre da Dinastia Liao (916-1225 d.C.), ajudarão os investigadores a estudar os costumes e os bordados daquela época, segundo Tian Yanguo, responsável do Museu Aohan Banner de Chifeng, na região autónoma da Mongólia Interior (norte chinês)».
Ora vejam bem. Se fosse eu a ter descoberto na China um sutiã com mil anos concluía que as chinesas, podem não ter grandes mamas, mas pelo menos já as têm há muitos anos! É por isso que, em matéria científica, não passo da cepa torta.

16.4.06

Levam para tabaco!

«Dez milhões de portugueses fumaram menos mil milhões de cigarros», segundo diz hoje a imprensa, o que não é o mesmo que dizer «mil milhões de cigarros ficaram por fumar por dez milhões de portugueses». Porque se fosse assim, a indústria tabaqueira teria algures, armazenados e expectantes, cem cigarros por cada português, se eu não me engano nas contas. Com milhões milhões de macacos! Não há bofes que aguentem...

15.4.06

Anarca

A cultura libertária não morreu. Vive, por exemplo, este sábado. O anarquismo mora aqui. Dizem o que querem e sabe-se de onde vêem. Trabalho mesmo ao lado onde Emídio Santana pôs, em 1938, uma bomba para matar Oliveira Salazar. Teria sido fabricada nas furnas miseráveis de Alcântara. Devido a um erro na colocação do engenho, a ideia frustrou-se. O destino ocupar-se-ia então do caso e faria a vida seguir a ordem natural das coisas: Santana faleceria em 16 de Outubro de 1988, Salazar tinha morrido em 27 de Julho de 1970. Eram dois mundos entre si incompatíveis: Santana, com o revolucionário «viver perigosamente», com Salazar, o conservador «viver habitualmente».

14.4.06

Agnus Dei

Vem no Diário de Notícias: «Passar fome. Ou pelo menos evitar os excessos: carne, salmão, linguado, marisco. Não usar jóias. Evitar o cabeleireiro. Usar roupa mais discreta: saias compridas, calças menos justas, blusinhas simples. Deitar cedo e cedo erguer. Ter paciência para os outros (...) Estes são apenas alguns dos "sacrifícios" que milhões de católicos em todo o mundo se propõem fazer durante a Quaresma». Dizem os padres. Se é assim, para mim é fácil, logo hoje que acordei de madrugada. Sem jóias nem blusinhas, quase careca, e detestando calças justas, não gostando de salmão e não pretendendo usar saias, parco em mariscadas e não achando muito que comer no linguado resta-me o pecado da carne.Talvez por isso ontem jantei num vegetariano. No mais, com paciência para os outros, vou-me esforçar, pois a carne é fraca.

13.4.06

Cartas para o baralho

Primeiro foram os da família do Lobo Antunes, agora os da Sofia de Melo Breyner Andresen. Lá vêm cartas e mais cartas. No primeiro caso cartas de namoro, agora cartas pessoais e literárias ao e do Jorge de Sena. Claro que há na literatura espaço para tudo, para o que é íntimo e para o que é público. Que o diga a Maria Filomena Mónica, para quem a diferença parece ter deixado de existir. Por mim, estou naquela fase da vida em que acho tudo bem. Já me habituei a ver nas capas das revistas, o cancro de um, as mamocas da outras, o adultério de todos. No dia em que andar tudo em pelota, melhor ainda, que descontadas as celulites e as banhocas, haverá de ser um regalo para a vista. Agora o que me irrita é a capa encadernada e meia dúzia de folhinhas dentro, o papel a puxar para o carote e o preço a entrar pelo bolso a dentro. Lá que abram a gabardina, ainda vá lá, mas ao menos, façam desconto. É que, no «peep-show», ao menos, cada um vê à medida das moedas que tem. Tá visto que em matéria de «voyeurismo» literário, tenho de esperar pelos saldos.

12.4.06

Nesta latrina

Escrevi isto em Novembro de 2004 e voltaria a escrever: «Há muito tempo que nesta latrina о ar se tornou irrespirável»: a frase pertence à discografia dos «Мãо Morta». É hoje um dos capítulos do livro «Estilhaços», publicado em 2004 por «Adolfo Luxúria Canibal». Canibal é о pseudónimo artístico de Adolfo Morais de Macedo, advogado e artista. Na música, como vocalista e letrista arrancou com os «Auaufeiomau», em 1981. Nas Leis trata do Direito do Ambiente. Lembrei-me daquela expressão, ao dar conta do a quantas andamos hoje. Um dos poemas desse livro surreal chama-se «Vamos Fugir» e abre assim: «tenho os passos vigiados no labririnto das notícias». Curioso: estava eu a ler о livro e, em fundo, corria о telejornal, com as notícias do dia. Estava já a faltar-me о fôlego. O ambiente anda mesmo muito mau! Auau!».

Com o Fisco, vão todos de carrinho!

1 373 contribuintes com dívidas à Segurança Social que totalizam 59 milhões de euros têem 6 353 veículos topo de gama, que vão ser penhorados. Façam-se as contas e veja-se quantos carrinhos tinha cada um desses relapsos. Tinham, digo bem, porque se a notícia é verdadeira lá vão eles a leilão. Se a coisa se consumar como é costume, daqui a uns tempos ou 6 353 novos portugueses andam de de alta cilindrada a baixo preço, ou 1 737 continuam bem motorizados como dantes, ou está tudo a apodrecer à ordem dos tribunais.

11.4.06

A troco de uns totsões

«Pelos vistos, há escribas que têm sempre um dono pronto a pagar-lhes». Quem é o diz é a imprensa da República Popular de Angola, falando da nossa imprensa. «Portugal merecia melhor que estes indigentes mentais que publicam desvairados recados a troco de uns tostões». A fonte é a mesma, os destinatários, os mesmos. Amanhã vou à correr à banca, comprar uns jornais, logo pela manhã para ver a resposta. Se a houver, claro.Vai ser divertido ver o que dizem. A trocos de uns tostões, fica-se logo esclarecido.

10.4.06

A seca

Guardo de Cabo Verde a imagem do meu padrinho de Baptismo, do livro «Chiquinho» do Baltazar Lopes, do campo do Tarrafal e sobretudo da seca, essa seca que gera a fome e a emigração, tudo assim por esta ordem, à medida que ia ganhando consciência do mundo. Agora, já homem feito e formado em Direito [quase diria reformado do Direito] não é que vejo no circunspecto Diário da República um Aviso 548/2006 que «torna público ter, em 18 de Julho de 2005, a República de Cabo Verde depositado o seu instrumento de adesão à Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, particularmente como Habitat de Aves Aquáticas, concluída em Ramsar em 2 de Fevereiro de 1971».

9.4.06

Apetece-lhe algo?

Um jornal turístico do Canadá diz que, depois de se trabalhar como um cão durante 52 semanas do ano, nada como o descascar doces laranjas numa varanda soalheira do Algarve em Portugal. Vem aqui. E eu que depois de trabalhar as mesmas 52 semanas à mesma como um cão, dou comigo a apetecer-me algo, mas não seguramente isso do descascar laranjas! Mas concedo: é uma forma como qualquer outra de atrair turistas à região que o ministro António Costa, outro dia, para ajudar, disse que era das que estava em maior risco sísmico! Os dos Canadá é que não repararam, quando não mudavam o registo e a coisa viria assim: depois de trabalhar que nem um cão durante 52 semanas nada como ficar em sumo de laranja com um tremor de terra no Algarve. Mesmo arrasado por um terramoto, o Algarve continua soalheiro.

8.4.06

As águas do Jordão

Todos nós recebemos emails com anedotas, graças e coisas que pretendem fazer rir, muitos dos quais vão directamente para o sector dos «deletados». Há dias em que o nosso estado de espírito é, porém, tal, que nada nos parece conseguir arrancar um esgar que seja. Excepção feita para esta, de uma série dedicada a piadas da nossa paróquia, que um meu amigo e cineasta [o «e» não é porque sejam incompatíveis], me acaba de enviar: «Tema da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas. A catequese de amanhã: À procura de Jesus». Obrigado Luís! Eu hoje estava mesmo precisado! Amanhã procura-me...

7.4.06

A cortina de fumo

O Governo prepara-se para pôr imagens de cadáveres nos maços de tabaco. Há quem goze, há quem ache um exagero. Eu por mim acho significativo e sobretudo simbólico. Se a ideia é mostrar que aquilo mata, nada melhor que uma boa imagem de um cadáver e bem morto. Um destes dias temos o escândalo da necrofilia: os fumadores inveterados, os que adoram fumar nas horas mortas! Mas seja! Cumpra-se o dito jesuítico de Santo Inácio de Loyola, «perinde ac cadaver»!

6.4.06

Angola vai no bote?

Portugal disponível para melhorar a Marinha angolana, diz a imprensa. Um desgraçado país como o nosso, quase sem navios e sem barcos, qual mendigo repartindo a côdea com o pobre, ainda quer ajudar quem quer que seja! Somos generosos! Chegámos às costas africanas de caravela, regressámos com uma fragata e um ministro, para «uma vertente de meios e equipamentos, a manutenção desses meios e equipamentos para garantir sustentabilidade a prazo da armada angolana e um programa de treino e formação de marinheiros e oficiais de Marinha». É este o discurso! Este e mais este: «Estamos hoje em condições de orientar uma parte da cooperação técnico- militar para os desafios com que as forças armadas angolanas e portuguesas estão confrontadas, sendo que, cada vez mais, por solicitação da ONU ou das organizações africanas de segurança e defesa, têm que responder a pedidos para participar em operações de paz». Belas palavras! Inflamados sentimentos! Arguto Ministro! Ajudaremos Angola no domínio naval, de chata ou de piroga!

4.4.06

O Ministro com azar aos polícias

O jornal «Público» que daqui a umas horas está nas bancas intitula assim a notícia sobre a exoneração do Director-Geral da PJ: «Santos Cabral diz que confiança institucional com o Governo “já não existia”». Uma pessoa lê isto e fica a metade do que precisa saber. Na notícia propriamente dita vem, porém, o resto: «"Há uma relação de confiança institucional que nos ultrapassa. Essa relação da minha parte não existe neste momento e por isso entendi que não tenho condições para continuar"». Agora percebe-se: afinal, era a Polícia que não confiava no Ministro, o que é uma coisa que dá para pensar.

2.4.06

Rebelo da Silva

O blog que criei dedicado ao Luiz Augusto Rebelo da Silva é daqueles parentes enjeitados que está votado ao desprezo. Hoje lá fui deixar uma picardia. Como dizia o outro, «as pessoas não gostam de si e você bem sabe porquê». Eu sei, mas é-me irresistível!

Tá tudo grosso!

Ninguém quer ver mortos da estrada por causa do excesso de alcool. Agora o que ninguém quer é ver um Governo a usar meios de pressão como aqueles que este está a usar a este propósito! Leio na imprensa que «A taxa de álcool no sangue permitida para a condução vai «diminuir consideravelmente» no final do ano, adianta o secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, citado no Diário de Notícias». Mas, continua a informação: «Esta decisão avança se o sector vitivinícola não agir para contrariar os números de mortos na estrada por excesso de ingestão de bebidas alcoólicas. Ou seja, o Executivo lança ultimato aos produtores viti-vinícolas: ou fazem campanha para travar o número de mortes nas estradas devido ao álcool ou o Governo baixa a taxa permitida pelo Código da Estrada», continua a notícia. Quer isto dizer, em termos claros: o Governo quer que os produtores de bebidas paguem a campanha contra o excesso de consumo de álcool! E por isso ameaça-os: ou pagam ou arruino-vos o negócio, prendendo-vos os clientes! É uma vergonha e uma falta de nível. Um destes dias podiam ameaçar as fábricas de automóveis: ou pagam para a Prevenção Rodoviária, ou ficam proibidos de fabricar viaturas que dêem mais do que 120 à hora! Ou já agora, contra os advogados: ou pagam o que custa a falida Polícia Judiciária, ou descriminalizamos tudo e ficam sem clientes! Agora sim começo a lembrar-me do Presidente do Governo Regional da Madeira: tá tudo grosso!

1.4.06

O dia dois

Hoje que é o dia das mentiras quero ser verdadeiro: aprendi na vida a mentir por omissão. Calo-me, por exemplo, para não dizer a verdade. É uma forma de comemorar como qualquer outra. O meu receio começa já no dia dois, domingo.