13.4.06

Cartas para o baralho

Primeiro foram os da família do Lobo Antunes, agora os da Sofia de Melo Breyner Andresen. Lá vêm cartas e mais cartas. No primeiro caso cartas de namoro, agora cartas pessoais e literárias ao e do Jorge de Sena. Claro que há na literatura espaço para tudo, para o que é íntimo e para o que é público. Que o diga a Maria Filomena Mónica, para quem a diferença parece ter deixado de existir. Por mim, estou naquela fase da vida em que acho tudo bem. Já me habituei a ver nas capas das revistas, o cancro de um, as mamocas da outras, o adultério de todos. No dia em que andar tudo em pelota, melhor ainda, que descontadas as celulites e as banhocas, haverá de ser um regalo para a vista. Agora o que me irrita é a capa encadernada e meia dúzia de folhinhas dentro, o papel a puxar para o carote e o preço a entrar pelo bolso a dentro. Lá que abram a gabardina, ainda vá lá, mas ao menos, façam desconto. É que, no «peep-show», ao menos, cada um vê à medida das moedas que tem. Tá visto que em matéria de «voyeurismo» literário, tenho de esperar pelos saldos.