30.11.05

A campanha «oficial»

A política é, de facto, congenitamente, o mundo da mentira e da ilusão. Uma pessoa lê, como eu o fiz há pouco, que a campanha eleitoral vai abrir «oficialmente» qualquer dia, observa o que se está a passar e pergunta-se sobre quem quer enganar quem. Ainda gostava de perceber qual a diferença entre a descarada propaganda que todos fazem e o que é permitido numa campanha eleitoral. Claro que o que fazemos todos é figura de estúpidos. Ainda por cima, como é politicamente incorrecto falar destas coisas, temos medo, não vá passarmos por anti-democráticos, espécie de estrela amarela que nos colocaria no «ghetto» da sociedade, à mercê dos que da política vivem e através dela mandam.

29.11.05

Censor e confesso

Há anónimos que se disfarçam nisto, para fingirem que têm nome. Depois, embuçados num falso nome, é o velho e relho comentário cada vez que eu falo no Ministro da Justiça. Posso aceitar o comentário ou recusá-lo. Recuso-o e venho dizer que o faço. No mais, acusem-me de censura, que não me importo. Mais que venham, mais que vão!

O mundo por haver

Fazem hoje setenta anos que morreu o Fernando Pessoa. O corpo que alimentava aquela alma recusou-se a continuar, talvez exangue pela impossibilidade da tarefa. A heteronímia não é só uma questão de personalidade, é também, em casos destes, um problema de sobrevivência.Morto o homem, ainda hoje se vasculha na arca funerária dos despojos, em busca do muito que poderia ter sido, esse mundo por haver.

O cordão

A «Antena Um» dizia há momentos que hoje ia formar-se um cordão humano de reformados em protesto, da Assembleia da República ao Palácio de São Bento. Ora como a Assembleia da República está instalada no Palácio de São Bento...

28.11.05

As urgências

Vá às urgências do Hospital Amadora Sintra domingo à noite. Há lá três tipos de urgências. Para o enganarem, dando-lhe a ideia de organização, colam-lhe ao peito uma etiqueta colorida, conforme seja o seu caso. Espere então a sua vez numa sala de espera, ao lado de dezenas de outras vítimas. Passado momentos, habituado ao local, notará um belíssimo écran de plasma, daqueles que se usam nos bares. Lerá então que o tempo médio de espera no caso da urgência maior são cinco horas e meia. Exactamente! Cinco horas e meia. No caso das urgências menos urgentes onze horas e meia! Eu não sei o que diga ou o que faça: a fazer alguma coisa, é mesmo só para me meterem na cadeia logo a seguir!

27.11.05

Sejamos razoáveis

O Ministro da Justiça introduziu na retórica política, no caso a propósito da reforma do sistema prisional, que ela estará «razoavelmente concretizada» até ao termo da legislatura. Eis uma forma de se prometer o que se sabe não se poder cumprir. O que talvez valesse a pena saber-se é o que estará «razoavelmente concretizado» até ao termo do seu mandato, a haver algo. Eu sei que isto é uma «boca», mas hoje é domingo, e é tempo de a abrir, preguiçosamente.

26.11.05

O poder de escutar

Há um problema jurídico das escutas telefónicas, ou muitos mesmo. Mas há um problema político nas escutas telefónicas: dar-se a um conjunto de senhores, porque magistrados, e aos seus polícias, o poder de ouvirem, meses a fio, com pretexto numa suspeita, o que se diz no cerne do poder político e no sistema financeiro nacional. Como informação é poder, quem mais sabe, mais vale. Depois é só um problema de ética. Basta ver o que se conta pelos corredores e o que vai despejado para as primeiras páginas dos jornais, para se tirarem as conclusões de como é que esse poder anda a precisar que alguém lhe deite a mão, para não cair na rua.
P. S. E escusam de vir dizer, para desviarem a conversa, que isto sou eu a defender o caso A, B ou C. Mesmo que fosse, não faria mais do que os outros, a quem tudo isso é impunemente permitido. Mas não é. Quanto aos casos profissionais em que intervenho, como dizia o outro, ainda sei escrever em papel selado. O que isto tem a ver é com a revolta de um cidadão ante o modo com isto se afunda.

25.11.05

Mais predadores

Penso que se percebe. Vai-se instalar em Monsanto um projecto de ninhos para a reprodução de aves de rapina. A Câmara Municipal de Lisboa, apoia a iniciativa. Naturalmente. Li esta local, hoje, na imprensa da manhã. Só houve uma coisa na notícia que me deixou preocupado. É que, entre os estudos que estão a ser feitos para dar corpo à ideia, há um aos «índices de abundância». Aí é que a coisa pode falhar: não que faltem rapinantes, o país é que já está muito rapinado.

24.11.05

Cavaco, tão perto e tão longe

Depois querem que as pessoas acreditem. A primeira página do jornal «Público» de hoje dizia que Cavaco estava mais perto da vitória à primeira volta, a primeira página do «Diário de Notícias» de hoje dizia que estava mais longe. No mesmo dia duas notícias, ambas a pretenderem ser verdadeiras. É como os «Hands on Approach». Esses ao menos ainda valem a pena ser ouvidos.

23.11.05

Sexo no Vaticano

Há coisas que espantam mesmo um cristão. Como se sabe a Igreja Católica restringe a homens o acesso ao múnus eclesiástico. Ora ao chegar há momentos a casa vi na imprensa que «o Vaticano veta o acesso de homossexuais ao sacerdócio». Uma só conclusão é possível: não deve ser por serem «homo», talvez seja por serem sexuais. De outro modo não se compreenderia.

22.11.05

Não nos estuprem a inteligência, por favor

Tal como algumas puras donzelas de antanho, o segredo de justiça apenas podia ser atacado por violação. Agora, tal o modo sábio como é manipulado, também já por atentado ao pudor.

21.11.05

Um livro para «voyeurs»

Já escrevi uma primeira impresão irónica sobre o livro de memórias da Maria Filomena Mónica, aqui. Depois, continuando a ler, deixei um segundo pensamento. comprensivo, aqui. Ontem, cheguei a uma conclusão final e vim aqui a este blog, dizê-lo: aquilo é lamentável e repugnante. Que a senhora, despindo-se na praça pública, conte as suas intimidades, ainda vá, agora que nos traga a nú quantos dormiram com ela e quantos se foram abaixo no acto de materializar esse dormir, isso é que, mesmo disfaraçado de poíticamente muito «gauche» é do mais baixo nível que há. Claro que, vindo de quem vem, a imprensa complacente não se atreve: o costume!

20.11.05

A caça

Diz o jornal que o Governo vai acabar com o regime de caça livre. Os coelhos agradecem.

19.11.05

O Mundo das Sombras

O meu blog «O Mundo das Sombras», depois de alguma dormência, enfim revitalizou-se, desta feita com um artigo sobre a passagem de Otto Srasser, o fudador do Partido Nazi, por Lisboa, com a Gestapo de Walter Schellenberg no encalço. Leia-se aqui.

Talvez

Talvez haja um bloco central da abjecção.

O lugar onde

Imagine-se que com o jornal se compra no Algarve um livro e com ele se descobre que o escritor Almeida Faria, que surpreendeu a Literatura ao ter escrito com dezanove anos o «Rumor Branco», se chama afinal Benigno de Almeida Faria. E imagine-se agora que hoje de manhã, comprando em Lisboa mais um tomo do mesmo livro, vejo a propósito do Américo Guerreiro de Sousa, que publicou «Os Cornos de Cronos», não uma fotografia do dito mas sim de «Cambridge, em cuja Universidade Américo Guerreiro de Sousa foi leitor de português». Mal refeito com o efeito, tropeço, agora a propósito do José Augusto Seabra, na mesma técnica: em vez da cara do biografado uma gigantesca imagem do «edifício da Unesco, em Paris, onde José Augusto Seabra foi Embaixador». Enfim, o livro chama-se «Literatura Portuguesa no Mundo». Visto desta forma, parece-se com um repositório de locais: vá o latinismo, «loca, loca infecta»!

17.11.05

Até amanhã

Um cidadão passa um dia enfiado num buraco a trabalhar. Chega à noite, exausto, e ainda tentar ler um jornal: poucas notícias lhe parecem novas, as novas parecem sem interesse. Confuso, um tal sujeito tenta pensar não importa em quê e nem isso consegue. Um cidadão assim adormece, só mesmo para, numa derradeira esperança, adiantar a chegada do dia seguinte. Talvez seja a pensar nisso que Mário Soares disse hoje que «o futuro Presidente deve saber antecipar o futuro».Também acho. Por isso mesmo, até amanhã, camaradas!

16.11.05

O estado sanitário

A campanha eleitoral para a Presidência da República entrou pelo estado sanitário de cada candidato. Cidadãos que pretendem alcançar a suprema magistratura do Estado descem na praça pública ao mais baixo nível verbal. Tudo começou quando se introduziu no argumentário que um dos concorrentes era velho. Um dia destes talvez se pergunte pelo estado de saúde da Nação que impávida a isto assiste: está doente!

15.11.05

A ovelha negra

Diz o «Diário Digital» que perguntaram numa sessão de campanha a Francisco Louçã esta pérola de ironia: «Também se candidatou às eleições legislativas. Afinal quer ser primeiro-ministro ou Presidente da República?». Infelizmente o «Diário» não nos diz qual foi a resposta do homem que nos tempos do PSR a si próprio se chamava de «a ovelha negra». E é pena! É que não há coisa mais deprimente do que uma ovelha negra, símbolo da rebeldia e da oposição, com aspirações ao conformismo de toda e qualquer liderança.

14.11.05

A mulher de Abu Salem tem saudades da prisão em Portugal!

Vem no jornal «The Times of India» de hoje: «Monica Bedi is missing her Portugal prison. "It used to be like a star hotel. There were many facilities in the prison, including a comfortable bed," don Abu Salem's wife Monica Bedi has told prison officials of the women's jail at Chanchalguda where she has been lodged as an undertrial in a passport forgery case. On her arrival at the jail two days ago, Monica had broken down. She reportedly wept when she entered the prison. "She seemed terrified," a prison official said. That was also because she did not like the idea of solitary confinement in a prison cell. However, later she was put in the company of two others».

Escutas a políticos

Na Coreia os responsáveis pelos serviços de informações decidiram fazer escutas telefónicas a políticos e outros influentes. Resultado: cadeia com eles: eles os que escutaram, entenda-se!. Eis o que anotei aqui. É mais um dos blogs que apascento, nas horas vagas.

Baleias no Luxemburgo

Li hoje que no «Diário da República» vem um aviso, com o n.º 412/2005, o qual «torna público ter, em 10 de Junho de 2005, o Luxemburgo depositado o seu instrumento de adesão à Convenção Internacional para a Regulação da Actividade Baleeira, concluída em Washington no dia 2 de Dezembro de 1946». E eu que não sabia que o Luxemburgo pescava baleias ou tinha sequer mar. Isto o Direito prevê tudo, mesmo o que nem se imagina que existe

12.11.05

Cavaco & Salazar

Eu não sei se Mário Soares ao andar por aí a espalhar que Cavaco Silva se assemelha a Oliveira Salazar não está a ajudar à vitória retumbante daquele e à vingança póstuma deste. Lembro-me de um momento risível, quando a revista «Visão», ao ter lançado um inquérito nacional para saber quem é que os portugueses achavam ter sido a figura do século e antecipando que a resposta seria Mário Alberto Nobre Lopes Soares, saíu-lhes, António de Oliveira Salazar. Talvez fosse bom os velhos esquecerem os mortos e cuidarem dos vivos, para bem dos novos.

11.11.05

A nossa Amadora

O Google tem um serviço de alerta que permite receber notícias da comunicação social internacional sobre Portugal. A esmagadora maioria dessas notícias são sobre futebol e desgraças. Hoje vinha uma citação do Gulf Times, do Qatar, segundo a qual a nossa Amadora pode tornar-se um problema grave devido ao foco de tensão social que ali se vive. Ah! Esquecia-me. Logo abaixo, vem outro recorte, da Reuters, exaltando a paz em Angola. Atenção pois doutor Freitas: olhe que na cena diplomática mundial, a Amadora passou a tema de agenda. A preocupação é grave e já vai no Golfo Pérsico!

Hoje há palhaços!

No blog jurídico «Patologia Social» há palhaços.

10.11.05

A esfinge e o esfinge

Jerónimo de Sousa, contido, disse que Cavaco gere silêncios, Soares, imoderado, disse que ele é ou está para ser o candidato esfinge. Oxalá a coisa se controle, porque ele há o poema «Aqueloutro» de Mário de Sá Carneiro, que perigosamene se chama «O Esfinge Gorda».

7.11.05

A cinza do remorso

A ganância de uns pela mão de obra barata, o falso humanitarismo de outros que lhes franqueou a vinda aos milhares, atulhou as periferias urbanas dessa massa humana, hoje em fúria. São uns desenraizados. Vêmo-los a limpar o nosso lixo, a servirem às nossas mesas, a construirem as nossas casas. Chegam pela madrugada, em transportes colectivos, qual gado sonâmbulo. Graças a eles, temos o conforto que eles nunca sonharão alcançar. Se houver retretes para limpar, são eles que as limpam, quando há um acidente em trabalho, normalmente são eles que morrem. Desta feita resolveram chegar-nos fogo. Paris, a pingue burguesa, tremelica, a Europa assusta-se, hoje em labaredas que são o castigo da nossa culpa, amanhã em cinza do nosso remorso.

Vasco

Leitura ao pequeno almoço, enfim a ironia. Jacinto (Prado Coelho) diz que para Vasco (Pulido Valente) as eleições deviam ser entre ele (Vasco) candidato e ele (Pulido Valente) eleitor. Eis um começo de manhã com cara alegre. Ele (Jacinto) vota aliás em Alegre (Manuel) o que tem graça.

6.11.05

Vários e um mesmo blog

Uma via de resolver a pressão demográfica seria albergar dentro de cada corpo humano várias pessoas. O mundo seria mais escasso mas mais variado e, por isso, mais divertido. Não que seja por causa disso, mas lembrei-me desta possibilidade, ao elencar os blogs que vou animando, nem sempre muito animado.
A Revolta das Palavras: blog onde com ironia se fala daquilo a que se convencionou chamar a realidade; A Janela do Ocaso: blog de um ser neurótico, que escreve sobre a tragédia do existir; Geometria do Abismo: blog quem julga que o racional mensurável nos salva e o quantificável nos perde; O Catador de Histórias: blog dos pequenos momentos de intimidade surpreendente; O Mundo das Sombras: blog daquele meu outro ser secreto e suas gavetas; Patologia Social: blog que não fosse eu advogado e ex-professor, não existiria. E, finalmente, hoje veio à tona de água uma outra criatura: A Posta Restante: viagens por outros mundos, devaneios por outras paragens. Por falar em paragens, talvez seja a altura de parar!

Não é verdade

As pessoas criam mitos que não conhecem. São os heróis de que se fabricam «posters», a glorificação da imagem. num certo sentido. Um é o eterno masculino, em cujo redor as muheres desmaiam de excitação. Outro o asceta pacífico, alimentado apenas no espírito e fazendo-nos envergonhar a nossa alarvice. Ali o anti-fascista congénito, mobilizado apenas pela fraternidade operária e pela paz dos povos. Claro que a minha mãe ficou chocada quando soube que o Rock Hudson era «gay» e eu quando li no volume II do Vasili Mithrokin que Salvador Allende era regiamente pago pelo KGB. Digam-nos que é mentira. Eu sei que ambos estão mortos, mas as suas sombras perseguem-nos.

4.11.05

Os candidatos e os partidos

Vinha a ouvir na rádio Manuel Alegre a falar em Coimbra. Não pertenço a nenhuma das candidaturas à Presidência da República. Estive com Mário Soares contra Freitas do Amaral, com Cavaco Silva quando ele concorreu contra Jorge Sampaio. Alegre atrai quando fala, mas não quando se pensa no que diz. É que ele discursa como se não tivesse até agora pertencido a um partido que não é o melhor exemplo daquilo que ele diz. Mas, à excepção de Jerónimo de Sousa, que é o PCP feito candidatura, e Louçã, que para o caso não conta, essa particularidade, não será, afinal a de todos os candidatos?

Os desmancha prazeres!

É verdade que a Justiça anda em crise, mas às vezes são as pequenas causas que geram os grandes efeitos. Há bocado fui espeitar a imprensa «on line» e vinha lá que «A Polícia Judiciária (PJ) anunciou hoje a apreensão de um livro do século XVI, classificado como bem patrimonial de valor histórico e artístico e que estava desaparecido desde 1954». Do ponto de vista da investigação criminal é um grande sucesso, daqueles que dá direito a fotografia, com o Director ao lado do troféu. Mas, claro, lá virão depois as autoridades judiciárias a decretar que o crime, só porque descoberto cinquenta e um anos depois, está prescrito. São uns desmancha-prazeres!

3.11.05

Vivido por qualquer um

Uma pessoa não se esgota só na profissão, nem no que julga valer a pena dizer para transformar o mundo. Uma pessoa esgota-se, sim, pelo pouco que vale, naquilo que tenta contar do muito que viu. Às vezes é o amanhã se puder .Não é que seja um grande momento, mas é um daqueles que poderia ter sido vivido por qualquer um.

2.11.05

O Inocêncio Cordeiro

Personagem controverso, sonoro nas gargalhadas, pertinaz nas convicções do momento, o malogrado advogado Fernando Luso Soares escreveu em 1965 um livro que é a história de Inocêncio Cordeiro. O homem tinha um sonho, que é, aliás, o título do livro: «Vontade de ser Ministro». A história, no seu burlesco, dizem-me que é patética: mau grado a sua insaciável ambição, o Inocêncio termina, e assim acaba o livro, por ser nomeado sim, mas para o lugar de Administrador-Geral dos Cemitérios! A coisa justificava-se: lugar de grande confiança política, a função do nomeado era evitar que a oposição, nas romagens civicas comemorativas nas efemérides, desse vivas aos mortos!

Quando elas assobiarem

Como já disse por aqui, andei este fim de semana chuviscoso em vadiagem por um alfarrabista no Porto. E dali trouxe um surpreendente livro chamado «Pontos de Instrução para o serviço rural da GNR», escrito por Alcino Cordeiro, homem da Régua que o editou, amorosamente encadernado, para uso dos praças daquela corporção. São pontos de exame «revistos e actualizados com a legislação em vigor, pelo 2º sargento Maximiano Gomes Esteves, comandante do Posto da Régua». Ora um dos pontos que o sargento Maximiano reviu é o n.º 95, saído em Setembro de 1949, onde se pergunta «como deve proceder o atacante para progredir sob o tiro de barragem de artilharia». A resposta vem lá e o ensinamento é util. Segundo Maximiano, que cita em abono da sua lição o «Manual do 2º Sargento de Infantaria do capitão A. V. R. Garoupa», nesse caso, «se for surpreendido em terreno liso e este não ofereça qualquer abrigo abandonará o mais rapidamente possível a zona batida por lanços curtos e rápidos». Ou seja, em linguagem leiga de paisano, sigam o ensinamento do sargento Maximiano: havendo fogo de artilharia, em lanços curtos e rápidos, ou seja, aos pulos e aos saltos, como um coelho, é cavar, pessoal, é cavar!

Cuidado que dá choque!

Vi distraído um destes dias num jornal que os socialistas pretendem legalizar a prostituição. José Luís Judas, quando era Presidente da Câmara de Cascais e socialista, também o queria na Costa do Sol, onde há o Casino. Claro que há as brasileiras e as eslavas e - haja orgulho! - as nossas. E o Oriente! Lá há disso que baste para exportar. Em Macau chamavam-lhes massagens eléctricas! E dura e dura e dura...

O dia do não

Deixem-me partilhar esta particularidade mais pessoal. Não escrevo nunca sobre casos forenses em que esteja a intervir como advogado, porque não. Não me sentiria à vontade a escrever sobre casos de justiça que vejo por aí nos jornais, porque sim. Não me apetece ler o que se escreve sobre os processos que por aí andam, porque talvez. Quem trabalha numa pastelaria odeia o cheiro a bolos. Se não fosse isso, ah! que vontade às vezes de vir para aqui dizer umas quantas! Mas não venho, porque nada!

1.11.05

Os fala-só

Alguém diz não importa o quê a propósito de não importa o que seja. Na esmagadora maioria das vezes não se argumenta contra o que se diz. O método é normalmente este. Fala a experiência. Primeiro, tenta-se mostrar que quem afirma está ao serviço de alguma pessoa ou de algum grupo, de preferência odioso, que as pessoas detestem e de que o visado se envergonhe. Se não há provas de que o alvo a abater esteja arregimentado, resta o argumento de que está «objectivamente ao serviço de» essa coisa. Segundo, tenta-se mostrar que quem afirma não tem credibilidade e assim, diga ele o que disser, nem vale a pena tentar mostrar que não tem razão nas conclusões ou verdade nos factos, pois tudo o que ele proclamar vale nada. Terceiro, tenta-se mostrar que o argumento é extemporâneo e despropositado, pois ou já passou muito tempo ou ainda não é a altura de se colocar o problema.
Se nada disto chegar, e antes de se tentar o argumento derradeiro que é eliminar quem argumenta, ainda há outros meios. Um, é convencer quem argumenta de que não ganha nada com isso, antes pode perder muita coisa, da paz de espírito à respeitabilidade social, isto quando não se arriscar a uma tareia numa esquina. Normalmente as famílias preocupadas e os amigos pressurosos encarregam-se desta humanitária missão de fazer desistir. Outro é desvalorizar o argumento, tentando passar a ideia que a questão não é aquela ou o que se diz só serve para confundir. Os iluminados, que têm normalmente o exclusivo da sapiência e do modo certo de colocar os problemas, servem para este efeito.
Enfim, entre tantos outros, há ainda um derradeiro método, que funciona sempre: não dizer nada, secando o argumentar com o silêncio sepulcral.
Em Portugal é assim que a coisa funciona. Atacar o homem, as suas supostas intenções, a oportunidade, fazê-lo desistir, ignorá-lo.
No meio disto há ainda quem resista! Normalmente são os fala-só.