Alguém diz não importa o quê a propósito de não importa o que seja. Na esmagadora maioria das vezes não se argumenta contra o que se diz. O método é normalmente este. Fala a experiência. Primeiro, tenta-se mostrar que quem afirma está ao serviço de alguma pessoa ou de algum grupo, de preferência odioso, que as pessoas detestem e de que o visado se envergonhe. Se não há provas de que o alvo a abater esteja arregimentado, resta o argumento de que está «objectivamente ao serviço de» essa coisa. Segundo, tenta-se mostrar que quem afirma não tem credibilidade e assim, diga ele o que disser, nem vale a pena tentar mostrar que não tem razão nas conclusões ou verdade nos factos, pois tudo o que ele proclamar vale nada. Terceiro, tenta-se mostrar que o argumento é extemporâneo e despropositado, pois ou já passou muito tempo ou ainda não é a altura de se colocar o problema.
Se nada disto chegar, e antes de se tentar o argumento derradeiro que é eliminar quem argumenta, ainda há outros meios. Um, é convencer quem argumenta de que não ganha nada com isso, antes pode perder muita coisa, da paz de espírito à respeitabilidade social, isto quando não se arriscar a uma tareia numa esquina. Normalmente as famílias preocupadas e os amigos pressurosos encarregam-se desta humanitária missão de fazer desistir. Outro é desvalorizar o argumento, tentando passar a ideia que a questão não é aquela ou o que se diz só serve para confundir. Os iluminados, que têm normalmente o exclusivo da sapiência e do modo certo de colocar os problemas, servem para este efeito.
Enfim, entre tantos outros, há ainda um derradeiro método, que funciona sempre: não dizer nada, secando o argumentar com o silêncio sepulcral.
Em Portugal é assim que a coisa funciona. Atacar o homem, as suas supostas intenções, a oportunidade, fazê-lo desistir, ignorá-lo.
No meio disto há ainda quem resista! Normalmente são os fala-só.