31.12.05

Mourinho, um caso de ciência política!

Um professor de ciência política em Cambridge, David Runciman, faz a recensão crítica de um livro sobre José Mourinho que foi escrito por Patrick Barclay e se chama «Mourinho: Anatomy of a Winner». Vem tudo aqui no «London Review of Books». Interessante é esta parte [que nos permitimos citar no original]: «Last summer he [Mourinho] visited Israel, and gave an address to a joint conference of Israeli and Palestinian coaches in Tel Aviv. He told his audience: ‘When I have retired, when, in 13 more years I have finished with football, I can see myself 100 per cent involved in human actions. I have always thought about problems in the Middle East and Africa, not just about football.’ Barclay suggests a role perhaps at the United Nations, since Mourinho ‘has, after all, proved he can unite dressing-rooms’». Inesperado, talvez, surpreendente, sempre.

Promessas e ilusões

Todos os anos prometemo-nos, muitas coisas, grandes mudanças. No fundo, batemos latas à janela da vida e jogamos, em água-vai, o lixo que acumulamos durante os doze meses de fustrações e desejos irrealizados. Há medida que o tempo passaa, o medo de não sermos capazes de renovar a esperança e de, ao promtermos, estarmos a iludir-nos, toma conta de nós. Muitos podem dizer: não chegámos lá! Por isso, para todos esses, um grande 31!

30.12.05

A verdade e a plausibilidade

O Expresso levou à primeira página que António Mega Ferreira iria substituir Fraústo da Silva no CCB. Quem ouviu a TSF ouviu o desmentido. Parece que nem convite houve. Não faz mal. A notícia se não for verdadeira é plausível: Mega não foi convidado, mas podia ter sido. Fraústo não foi demitido, mas podia ter sido. É que entre um e outro há um governo que mudou, e isso leva normalmente a mudar os deles pelos nossos.

29.12.05

A sesta

Vi agora mesmo, numa nesga do jornal do Mário Crespo, que as autoridades espanholas gostariam de acabar com a «sesta». O risco, num povo habituado a cochilar depois da «comida», é o bocejo generalizado durante a tarde. Imaginem em Portugal o Governo lembrar-se de obrigar a que comecem a trabalhar pelas oito os que entram habitualmente nos empregos pelas onze: era um exército de sonâmbulos a atender uma multidão de estremunhados. E alguns tem mau acordar!

Viver em cima da falha

Diz a imprensa que «Em Portugal foram este ano localizados entre 500 a 600 sismos, mas só 21 foram sentidos». Para quem quiser impressionar-se com a actvidade sísmica constante nesta área em que nos encontramos, clique aqui e talvez passe a dormir menos, ou então com um capacete enfiado na cabeça , como aqueles políticos em campanha eleitoral, a visitarem fábricas.É o que dá quando vivemos em cima da falha.

27.12.05

A Justiça a contas

O PGR vai a contas à Assembleia da República, os deputados pedem para saber se num certo processo foram ou não feitas certas averiguações. Claro que eu penso que, por causa da separação de poderes, isto pode estar muito mal. Mas isso são os princípios a determinarem o raciocínio, tique o que me torna uma abencerragem mental, a caminho do museu. É que, neste mundo actual, há os que, mais hábeis, pensam de outro modo mais personalizado e assim, por causa dos deputados que temos, acham péssimo, e ao pensarem nos magistrados que existem, acham excelente. Restam finalmente os políticos, os que acham sublime isso de os da Justiça agora andarem a contas, na lógica do ora agora mandamos nós neles, que é para eles verem como é que elas doem.

26.12.05

Mamã eu quero!

Há dias, como o de hoje, em que o comércio, exausto, fecha. Na guerra diária com as vendas, enfim, tréguas. Esta madrugada, chegam camiões aos paióis das grandes superfícies. Amanhã reabrem as hostilidades, com um tiro de canhão do produto da semana, rajadas de metralhadora das novas promoções. O exército dos consumidores, salta e corre, na luta diária pela sobrevivência, fugindo das tundras geladas dos pré-congelados para as savanas húmidas dos frutos tropicais. A um canto, uns enlouqueceram entre os mil e um tipos de queijos e vinhos, imobilizados ante a dificuldade da escolha, mais adiante outros agonizam soterrados pelo leve cinquenta pacotes de cada, com cinco por cento de desconto. Ajoujados ao peso do dispensável, quais mulas de uma guerra consumista e voraz, aqueles carregam alforjes de açucarados e gordurosos, a azia e o colesterol, a gula e a ganância, tudo num carrinho atulhado, uns ganapos aos uivos no ó mãe compra, ó mãe leva, ó mãe eu quero.

25.12.05

Jorge, podes vir, mamã, enfim, morta!

Diz a imprensa que se Carlos de Inglaterra chegar ao trono, passa a chamar-se Jorge, porque o nome Carlos «está demasiado associado a monarcas com má reputação». É tão simples como isso: porque isto um homem ter uma nome mal afamado só é coisa que importe quando se chega a rei, até lá até é um ademane convidativo! Eu sei que não é dia 5 de Outubro, mas se não se importam, abro a janela - olha está a chover ! - e lanço um brado violento e convicto, eu sei que pouco natalício: Viva a República! Viva o Buiça! Viva o Costa! O Costa, o outro, alto lá!

Zé, tu não te esqueças!

A Posta Restante renasceu esta manhã com um pensamento vinícola. Eu sei que ainda não são nove da manhã, mas não me posso esquecer de levar as três garrafas de vinho para o almoço. É só uma forma de me lembrar. No mais é tudo de uma sobriedade exemplar.

24.12.05

A liberdade de esquecer

Tentei explicar aqui o porquê desta longa ausência. Entretanto, entre o pouco que me aconteceu, sucedeu encontrar um estudo de Lucília Verdelho da Costa sobre Fialho de Almeida, o feroz polemista dos «Gatos». Fialho, filho de mestre-escola, formou-se em Medicina, sendo marçano na juventude. Numa crónica a propósito de Rosa Araújo, escreveu sobre «toda a cambada colossal que por Lisboa respira, engorda e vive de calotes», a cidade de «gente anémica e engaiolada», onde pulula a «matilha que reparte entre si os dinheiros das rendas públicas, e se crapuliza na porfia escandalosa do poder». Araújo, que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, morreu pobre, a cambada gorda e a gente anémica sobrevivem-lhe. A ele se deve a edificação da majestosa «Avenida da Liberdade». Ninguém se lembra já disso, por ironia. Somos livres, de esquecer!

11.12.05

Vicious dog

É cada vez mais difícil um homem ter um vício. Bebe-se um cafezinho e lê-se na imprensa que esses «coffee-break» contribuem para as 1.574.203.400 horas de trabalho que foram perdidas em Portugal em 2004. Fuma-se e vê-se, como eu vi, numa bolsa de tabaco para cachimbo, que o tabaco causa doenças «polmunares», o que deve ser uma forma de contribuir para o analfabetismo em Portugal. Não há dúvida que um português viciado é um inimigo do seu país. Restam os portugueses viciosos. Com esses no mando e a cuidar de nós talvez a nossa alma se salve. Um dia, ao passear pelos picos enevoados dos Açores vi, num muro arruinado de um decadente hotel abandonado, uma tabuleta que anunciava: «beware, vicious dog». À ideia de um canídeo pervertido e lúbrico, ansioso de farra obscena, e pior, a perseguir-me o rasto, raspei-me dali.

7.12.05

A carta-missiva que eu não escrevi!

Um jornal de hoje de manhã dizia que eu, ontem à tarde, tinha escrito uma «missiva» [sic] a todas as redacções [estas coisas não se fazem por menos] a dizer o que, já agora, a ser verdadeiro, seria uma falsidade, um disparate e uma total estupidez. O problema é que eu não tinha escrito carta nenhuma: ontem de tarde estive soterrado num julgamento e hoje, durante o dia, embaiucado a trabalhar. Quando me deram conta do facto da minha suposta carta, a que nunca escrevi, lá contactei o jornal. Foram gentis, são simpáticos e vão rectificar. Claro que há os que leram a «notícia» e já não lerão a correcção. Mas, enfim! Estas coisas são daquelas a que se diz «tenha paciência», como aos pobrezinhos que andam de mão estendida, como eu andei este fim de tarde, a pedir desculpa pelo que não fiz. Sete milhões de euros de desculpas...

6.12.05

Ao Deus Dará

A Geometria do Abismo, que andava ao Deus-dará lá teve hoje um instante de atenção: foi à hora de almoço.

Soares entre sorrisos

«Mário Soares defendeu, na segunda-feira, entre sorrisos, que todos os portugueses deviam ter direito a um mês de férias no Brasil, quando completassem o 12.º ano, uma vez». Entre sorrisos diz o jornal, piedoso, pois a bem dizer talvez se pudesse ter escrito entre «embaraçados e pesarosos sorrisos».

3.12.05

Escrevi e escreverei

Hoje, depois de alguma ausência, escrevi em A Posta Restante e ainda irei escrever na Janela do Ocaso. Quanto aos outros sítios, logo se verá: hoje é sábado e faz um sol acolhedor na rua aqui em frente!

A Justiça no fim da picada!

A ideia da lei sobre política criminal é transferir para a justiça a lógica militar: os generais da Assembleia da República definem a ordem de batalha e mandam os soldados da Justiça avançar. Claro que às vezes nas salas dos Estados-Maior os medalhados estrategas nem sempre se apercebem de que as tropas no terreno andam mal armadas, pior municiadas e com a moral abaixo de zero. Depois é a lei da selva: no auge da refrega cada combatente respeita o seu comandante e despreza o seu general: é a lógica dos que sofrem no capim contra os que se refastelam no ar condicionado.