Há dias, como o de hoje, em que o comércio, exausto, fecha. Na guerra diária com as vendas, enfim, tréguas. Esta madrugada, chegam camiões aos paióis das grandes superfícies. Amanhã reabrem as hostilidades, com um tiro de canhão do produto da semana, rajadas de metralhadora das novas promoções. O exército dos consumidores, salta e corre, na luta diária pela sobrevivência, fugindo das tundras geladas dos pré-congelados para as savanas húmidas dos frutos tropicais. A um canto, uns enlouqueceram entre os mil e um tipos de queijos e vinhos, imobilizados ante a dificuldade da escolha, mais adiante outros agonizam soterrados pelo leve cinquenta pacotes de cada, com cinco por cento de desconto. Ajoujados ao peso do dispensável, quais mulas de uma guerra consumista e voraz, aqueles carregam alforjes de açucarados e gordurosos, a azia e o colesterol, a gula e a ganância, tudo num carrinho atulhado, uns ganapos aos uivos no ó mãe compra, ó mãe leva, ó mãe eu quero.