30.9.05

Cajados e quejandos

Há uma coisa chamada «o movimento», que são as listas dos magistrados e dos funcionários, que são colocados, por nomeação ou transferência, nos vários tribunais. Por ironia do destino, no dia a seguir a ter saído o «movimento» dos oficiais de justiça, este movimentaram a greve para o dia 26. É um sinal, muito significativo. Na Justiça, o que isto está a precisar, é mesmo de um «movimento», de forças armadas, como diria o Eça de Queirós, «com o seu direito e um grosso cajado».

Campos de concentração

Há quem diga que entre Soares e Alegre há alguns campos de convergência. Campos, digo bem. E sei do que falo.

Um homem intranquilo

António Vitorino não quis receber de mão beijada a liderança do PS, quando o PS agonizava sem líder. António Vitorino não quis ser primeiro-ministro de Portugal, quando no país o poder lhe caía, de podre, nas mãos. António Vitorino não quer apoiar Mário Soares, um dos homens que fez dele aquilo que ele é. António Vitorino esteve em vias de ser o Presidente da Europa, hoje só quer a Assembleia Municipal de Setúbal. Há quem diga que este homem persegue um objectivo escondido. O que mais parece é que há algo de escondido que persegue este homem: não será a tranquilidade do dinheiro, é aquela tranquilidade que nem o dinheiro compra.

29.9.05

Sim, fomos nós!

Vistas da televisão, as campanhas eleitorais, quase todas elas sem excepção, são uma palhaçada ridícula e absurda. Quem tenha dez reis de testa muda de canal. Quem conhece o país real, quem não ignora o país partidário, sabe que se está hoje a roçar o degradante na arte de arranjar candidatos e de os vender ao eleitorado. Por outro lado o eleitorado não é, em matéria política, mais exigente do que quanto aos programas de televisão com que diariamente se imbeciliza. A nossa geração, gerou esta miséria!

Um exemplo que cheira mal

Finalmente a poder espreitar uma nesga de televisão, vejo um Secretário de Estado a explicar porque é que o interesse nacional de que a justiça não pare justificou a requisição civil dos funcionários. Entre os muitos exemplos de que há casos em que é legítima a dita requisição, o aludido Secretário deu um fantástico e muito a propósito: o da recolha do lixo em caso de insalubridade. Finalmente, compreendi o que pensa o Governo a propósito da Justiça! Levou tempo, mas está entendido.

Amarelos

No dia em que os funcionários judiciais, que são a parte financeiramente mais débil e que tem mais a perder, arrancam para a greve, os dirigentes sindicais dos senhores magistrados deixam que conste que talvez desistam da sua, desde que o Governo blá-blá, não sei o quê. É o que dá os patrões fingirem-se de trabalhadores. Na hora da pedrada correm a aninhar-se com o Estado burguês, seu igual.

A luta continua!

Em 1996 Alberto Bernardes Costa estava Ministro da Administração Interna. Nesse ano publicou um livro chamado «Para a Modernização da Actividade Policial». Um ano depois desandava do cargo. Na ressaca da demissão, publicou um livrito a que chamou «Esta não é a minha polícia!». Agora está na Justiça e anda a tentar modernizar os tribunais. Cuidado pois! Está para breve o momento em que, chiando os prelos, virá a lume uma sua obra-prima: «Estes não são os meus juízes!». Até lá, a luta continua.

28.9.05

Meu caro Zagalo, o homem talvez ganhe

Manuel Alegre diz que tem o apoio de grandes figuras nacionais e aí, o povo republicano, que nele vê o candidato dos muitos que não querem a democracia prisioneira dos directórios partidários, fica chocado com esse elitismo que os desconsidera.
Manuel Alegre escusa-se a adiantar o nome desses apoiantes e então, a classe média republicana, aquela que vai para o lado onde estão os seus maiores, fica desamparada com essa ausência de referências que os oriente.
Manuel Alegre diz que para já revela que tem «o apoio do candidato do PS à câmara do Entroncamento, Alexandre Zagalo» e então todos, as grandes figuras, as figurinhas menores e os figurões intermédios crêem num fenómeno, um típico fenómeno do Entroncamento: o homem talvez ganhe as eleições

27.9.05

O aeroporto dos otários

O Governo querer mandar os passageiros que pagam bilhetes de avião mais caros para a Ota. Vá lá, não se lembraram de fazer um aeroporto nas Caldas!

Caça em Felgueiras

Segundo a folha oficial, a Portaria n.º 929/2005 acaba de criar a zona de caça municipal da freguesia de Felgueiras, pelo período de seis anos, e transfere a sua gestão para a Câmara Municipal de Felgueiras. Já tínhamos notado! Agora é de lei.

25.9.05

O deserdado da «democracia»

Inteligentemente amiga, a minha querida AntropoLógica escreveu um belo texto e esperançoso, sobre a Democracia. Ora eu nunca tinha pensado pela minha cabeça no que seria a democracia, tal como o outro que, por amar, nunca pensou no que seria o amor. Pensei então e depois de muito pensar, conclui esta noite e vim aqui dizê-lo de manhã que a democracia são muitos a darem a poucos o poder de nos fazer obedecer. Só que os possíveis amos, organizados que estão, tornaram a coisa mais subtil. Criando-nos a ilusão de que escolhemos outros, fazem-nos escolher, afinal, sempre mais dos mesmos. Nasceu assim a nova classe dos senhores, os nossos senhores. Uma classe organizada, beneficiada pelo mando e por nós legitimada. É o bloco central dos que querem estar e adoram estar. Vão-se sucedendo e têm as regras próprias de sucessão. De quando em vez surge um, menos alegre, a dizer que a cidadania não se esgota nos directórios dos partidos. A gente percebe logo: foi deserdado!

Belém, na oportunidade

O Supremo Magistrado da Nação convocou os da Justiça a Belém. Dizem que o encontro estava agendado antes da greve. Mas se o assunto vier a propósito, é possível que, no seu estilo redondo e de cooperação institucional com o Governo, o Presidente não perca a oportunidade de falar no assunto: talvez não lhes peça, aos grevistas, para desconvocarem a greve, quando muito que a marquem para as férias. Assim como assim, ficam todos contentes.

24.9.05

Alegre & Soares

Mário Alegre e Manuel Soares vão candidatar-se a Belém. O objectivo é evitar que Cavaco ganhe à primeira volta. Um deles tem uma fundação. Ao outro, por não a ter, só resta fundir-se.

23.9.05

Vergonha de ser democrata

Quando eu coloquei no sub-título deste «blog» o «da desilusão à insurreição geral», não tinha lido ainda, como aconteceu esta manhã, o que vem na imprensa: que Pedro Santana Lopes, a partir de Outubro, vai passar a receber 3 178 euros de pensão, seiscentos e tal contitos por mês. Porque, se eu tivesse lido, ainda ia a tempo de ter escrito «da desilusão à insurreição armada». Não por causa dele, mas por causa de um sistema político miserável que permite que haja outros tantos como ele, por causa da política, a safarem-se, à grande, à nossa conta. Se isto é a democracia, tenho vergonha de ser democrata!

Gritos e apitos

Há um jornal de hoje que diz que o Procurador-Geral da República decidiu que a acusação de um determinado processo só sai depois das eleições autárquicas. Sem que o país se incomode ou os do costume comentem, esta notícia é de uma gravidade extraordinária. E esta sim é uma daquelas que Souto Moura tem de desmentir, se não quiser ficar à mercê de uma insinuação. Através dela fica claro que a acção penal está alinhada com a vida política do país. E, pelos vistos, ao mais alto nível. Até aqui constava; a partir de hoje, sabe-se. Aguarda-se para ver se o PGR não vem, a este propósito, dizer que «talvez».

22.9.05

Fumos de ilusão

A ideia do dia sem carro é um tique de ricos para se fingirem verdes. Para muitos, o carro poluidor é o único meio de virem de fumarentos subúrbios para atrofiados empregos. Claro que adorariam pedalar ecológicas bicicletas. Mas nem vivem na Holanda nem têem empregos ao pé de casa. Verdes por verdes, muitos gostariam é de trocar de carro. Mas às vezes o dinheiro não chega sequer para mudar o óleo. Em matéria de poluição, deixemo-nos pois de cortinas de fumo.

21.9.05

A condição feminina

Já não sei onde é que li, ou me disseram, que as mulheres de muitos do DRIL que participaram em 1961 no sequestro do navio «Santa Maria», empenharam os anéis e os fios de ouro para que os maridos comprassem bilhetes de passageiros e assim pudessem, fingindo-se passageiros no cruzeiro Miami/Curaçau, infiltrar-se no barco a que, depois, deitariam mão. Por estranho que pareça, lembrei-me disto ao ver as notícias sobre as mulheres dos militares a pedirem autorização legal para a manifestação dos maridos. Num caso e em outro a mesma aparente abnegação feminina, no segundo, porém, o odor perturbador da instrumentalização e do sofisma. Honra ao grupo galego e português capitaneado pelo bravo Xose Xoutomaior. Quando tudo terminou em fiasco, o navio acostado ao Brasil, com os americanos a ajudar, um capitão de infantaria viria, travestido de almirante, entregar-se à luz da história como o herói do acontecimento. Todos os outros e sobretudo todas as outras ficaram nas penumbras do esquecimento. O militar chamava-se Henrique Galvão.

20.9.05

O mundo do entre-tudo

O treinador do Futebol Clube do Porto numa só frase disse tudo: «A minha primeira tarefa é entreter as pessoas». Ora aí está uma coisa que se pode aplicar precisamente à classe governamental: também ela vive de entreter o eleitorado. O ministro das Finanças, por exemplo, disse ontem ou hoje que nem reparei: «Este não será um ano de recessão, mas de fraco crescimento da economia portuguesa». Quando eu era rapaz, o que, como se calcula, já aconteceu há muitos anos, havia um primo meu por afinidade que, retorquinado a uma avó que o sarnava, se notabilizou em casa por uma frase que lhe custou um raspanete sério: «Em todas as casas há sempre uma velha para chatear e para bater!». Eu hoje acrescento, rimando sem querer: e um Governo para entreter.

19.9.05

O ABC do amor

Nos tempos do velho «Luta Popular», o órgão oficial do MRPP, havia números a fio daquele jornal escritos sob a palavra de ordem «Fogo sobre a canalha social-fascista do ABC». Na altura, o ABC era o secretário-geral do PCP, Álvaro Barrerinhas Cunhal. Hoje, os militantes daquele partido que teve um «Grande Educador» como seu timoneiro, é tudo gente que está no poder, muitos na área da Justiça. Os tempos mudaram. O ABC que lhes calha hoje chama-se Alberto Bernardes Costa. Eles mudaram e tanto que já deram ordem de «alto ao fogo!». É a vida!

Vergonha na cara

Um jornal, como o «Diário de Notícias» que publica, a ilustrar um artigo sobre a campanha de Lisboa, uma fotografia de um cartaz de Carmona Rodrigues, onde se lê «Dar a cara por Lisboa» com a cara do candidato tapada pelos ramos de uma árvore, só pode tê-lo feito de propósito e com o fito de ridicularizar o fotografado. Não é que eu tenha algo a ver com a candidatura do dito senhor ou com qualquer outra e nem sei sequer se me apetece votar em Lisboa, tal é o baixo nível da campanha eleitoral. O que me parece é que um jornal destes devia ter vergonha. Vergonha na cara!

18.9.05

O diabólico Ratam

Ribeiro e Castro, em Mondim de Baixo, chamou à candidatura de Mário Soares «um filme trapalhão de longa metragem». Fiquei preocupado com a minha ignorância. Poderia ser a célebre série brasileira «Os Trapalhões»! Mas Soares Dédé? Soares Didi? Não fazia sentido. Mas quem porfia mata caça. Acho que descobri. O filme foi produzido em 1989 no estúdio de Renato Aragão. Tem 112 minutos de duração e chama-se «A Princesa Xuxa e os Trapalhões». Segundo consta do «trailer», em vernáculo brasileiro, a história é esta: «Um cavaleiro se une a três príncipes para combater o diabólico Ratam, que assumiu o poder do planeta». Tá visto. Só podia ser isto. Agora o que ando desconfiado é em saber quem será o diabólico Ratam. Mas isso, como de costume, é tabu.

Sempre!

Marques Mendes afirmou que ser amigo do primeiro-ministro é ter emprego ou nomeação garantida. Como todas as verdades, é uma verdade de sempre.

A política de saia arregaçada

Há aquelas pessoas que quando andam às voltas com um livro interrompem minuto a minuto a família toda, para lhes ler o que andam a ler. Eu sou desse género, só com a diferença que às vezes não tenho família a quem ler. Ora vocês já viram esta do Luiz Pacheco no seu diário, agora publicado, a lembrar que quando se levantam as saias à literatura vê-se-lhe tudo. E eu a pensar que na actual política é o mesmo, sem nada por baixo.

O perigo do cai-cai

Os passageiros sabem que não podem usar telemóveis a bordo porque, interferindo com as comunicações do avião, este pode cair. Sem perceber nada leio agora nos jornais que a TAP foi escolhida pela Airbus para «testar» o uso dos telemóveis nos seus aviões. Um tipo lê uma coisa destas, olha para a palavra «testar» e ganha, de facto, um grande entusiasmo em viajar. Não haja dúvida que o perigo é sempre um grande estímulo. Sobretudo um perigo destes. Mas toca a embarcar e de telemóvel na mão. Onde está o risco está o interesse, como no «soutien» cai-cai: o pior às vezes só se vê depois.

A aritmética do «Avante!»

O jornal «Avante!», órgão oficial do PCP, tem uma secção chamada «Argumentos» e quem nela escreve é o Correia da Fonseca. No último número deste periódico, que está «on line» [um «Avante!» ao alcance de qualquer PC], está este momento de boa disposição, a propósito da eleição para a Presidência da República e concretamente com o propósito de demonstrar que «a conquista de uma maioria absoluta na primeira volta não depende do número de candidatos desde que estes sejam mais de dois»: «Exemplifiquemos com uma hipótese improvável quanto a nomes, mas esclarecedora quanto à questão em aparente equívoco: afinal o professor Cavaco não se candidata e o único candidato da direita é o dr. Santana, que até está em situação se sub-emprego, enquanto que sob a etiqueta de «esquerda» se alinham Jerónimo, Mário, Francisco, Carmelinda e mais cinco outros candidatos cujos nomes me dispenso de inventar. Poderia o charme do dr. Santana conquistar 37% dos votos contra, na esquerda dividida, 18+17+7+1+1+1+1+1+1, somando 48% se a aritmética não me falha. Santana (direita unida) teria tido muito mais votos que a «esquerda dividida», mas nem por isso seria presidente por não ter tido maioria absoluta (cujo mínimo, nesta hipótese seria de 49%). Na segunda volta, os votos da esquerda, concentrados no único dos seus candidatos que teria passado a essa fase, facilmente ultrapassariam os 40% e Santana Lopes teria de se partilhar entre o seu lugar na AR e o escritório de advogado onde aguardaria a chegada de clientes». Ora aí está a evidência do «charme discreto da burguesia».

O simpático Carrilho

Nos jornais, o título é uma arte. Exemplo, no «Diário Digital» onde se lê: «Carrilho tenta passar imagem de simpatia na Picheleira». Nos meus tempos de estudante havia uma carreira de autocarro que ia da Buraca à Picheleira. É mais ou menos o mesmo. Só o título parece diferente.

17.9.05

Um verdadeiro ar condicionado

«O primeiro-ministro não se deixa condicionar pelas opiniões de terceiros». Quem o diz é o próprio, através do seu gabinete. Um homem destes bem se pode considerar um verdadeiro animal da categoria dos ferozes. Dito pelo próprio, ainda governante só putativo, em discurso directo. José Sócrates o incondicionalmente incondicionável. Ei-lo.

Sado-masoch eleitoral

Manuel Alegre diz que se as sondagens lhe derem bons resultados não é masoquista. Seguramente que não. Nem nós sádicos. Aguardemos, pois. Nesta matéria de eleições, o povo nunca se engana e raramente tem dúvidas.

Regressados à tona de água

Boa noite. Com a casa arrumada e cada personagem no seu lugar, penso haver lugar para uma intervenção cívica e ser este o local adequado para a mesma. Este blog nada tem a ver com os outros que entretanto escrevo e só o autor é, por acaso, o mesmo. Regressamos pois com «A Revolta das Palavras», título que é o de um livro da Maria Ondina Braga. Tentaremos recuperar alguns dos postais do anterior que, graças à amizade, se conseguiram recuperar. Tudo a seu tempo.