É cada vez mais difícil um homem ter um vício. Bebe-se um cafezinho e lê-se na imprensa que esses «coffee-break» contribuem para as 1.574.203.400 horas de trabalho que foram perdidas em Portugal em 2004. Fuma-se e vê-se, como eu vi, numa bolsa de tabaco para cachimbo, que o tabaco causa doenças «polmunares», o que deve ser uma forma de contribuir para o analfabetismo em Portugal. Não há dúvida que um português viciado é um inimigo do seu país. Restam os portugueses viciosos. Com esses no mando e a cuidar de nós talvez a nossa alma se salve. Um dia, ao passear pelos picos enevoados dos Açores vi, num muro arruinado de um decadente hotel abandonado, uma tabuleta que anunciava: «beware, vicious dog». À ideia de um canídeo pervertido e lúbrico, ansioso de farra obscena, e pior, a perseguir-me o rasto, raspei-me dali.