24.12.05

A liberdade de esquecer

Tentei explicar aqui o porquê desta longa ausência. Entretanto, entre o pouco que me aconteceu, sucedeu encontrar um estudo de Lucília Verdelho da Costa sobre Fialho de Almeida, o feroz polemista dos «Gatos». Fialho, filho de mestre-escola, formou-se em Medicina, sendo marçano na juventude. Numa crónica a propósito de Rosa Araújo, escreveu sobre «toda a cambada colossal que por Lisboa respira, engorda e vive de calotes», a cidade de «gente anémica e engaiolada», onde pulula a «matilha que reparte entre si os dinheiros das rendas públicas, e se crapuliza na porfia escandalosa do poder». Araújo, que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, morreu pobre, a cambada gorda e a gente anémica sobrevivem-lhe. A ele se deve a edificação da majestosa «Avenida da Liberdade». Ninguém se lembra já disso, por ironia. Somos livres, de esquecer!