Mário Alberto Nobre Lopes Soares veio proclamar que é e sempre foi contra todos os situacionismos. O argumento parece um truque de prestidigitação. Um incauto ouve e pensa logo no Soares do antigo regime, deportado em São Tomé, por ser «do contra». É esse o objectivo da frase, que os ouvintes esqueçam o outro-ele, o Soares que criou uma situação que é aliás uma forma de estar na vida e na política, o «soarismo». Trata-se daquele modo de ser que é a forma cómoda de se ser português: a bonomia da imagem que esconde o iracundo do carácter, a ligeireza do afecto que dissimula a superficialidade da preocupação. A ele todos lhe perdoam, mesmo os pouco que não lhe acham graça. Há só uma faceta deste dito que pode ser sintoma de um problema. Um Soares contra todos os situacionismos, pode ser um Soares contra o «soarismo». Se for assim, o homem está farto de todos os que o animaram para esta aventura funesta, a de ser candidato. Preparem-se pois! Mário Alberto Nobre Lopes Soares pode ainda, tal como no passado aos berros com o polícia, saltar à balaustrada e em desatino verbal contra os da sua própria campanha, berrar-lhes: desandem daqui!