«A poesia é o poder», proclamou hoje Manuel Alegre num sua sessão de propaganda. Claro que é o poder de fascinar, e Alegre seduz cantando ditirâmbicamente a pátria triste que é a nossa, a dos sonetos do obscuro quê. Claro que é o poder de mobilizar e Alegre clama, como se em verso heróico, o canto e as armas, o da resistência e da insubmissão. Mas Alegre, Manuel Alegre, Manuel de Melo Duarte Alegre, é agora pouco poeta e muito candidato, ele é o cidadão da política para a política, que nos fala por causa da política. E nada há de mais prosaico do que a política. Deixemos pois a poesia, a decência da poesia, não a tragam, de roldão descomposta, para a taberna pública dos jogos de poder.