Visto os exemplares que se vendem, a glória de vir no jornal é de uma menoridade comovente. 48 mil compram e nem todos lêem o jornal «Público», 33 mil o «Diário de Notícias». O falecido Nunes, por exemplo, morre sem que a sua necrologia paga seja vista por muitos dos que no seu próprio bairro compraram a imprensa que a editou. O político da grande entrevista, a associação em crise de causas, a menina Ifigénia que foi assaltada no metro, todos, sem saberem coitados, falam para o boneco. São só exemplos, mas de casos exemplares. O José, da Grande Loja [a do queijo], esse diz a coisa se explica por uma «descredibilização generalizada», forma de dizer que as pessoas não lêem pois não acreditam. Por mim talvez nem seja isso. Vejam os jornais desportivos: as pessoas só acreditam no gooooolo que viram, mas vejam-nos ávidos a lerem no dia seguinte, linha a linha, o golo contado e recontado mesmo pelas mil maneiras que há de o transformar em frango. Eu, permitam-me que arrisque uma opinião, acho que as pessoas não lêem só por uma razão: preferem ver na TV. Ali há uma vantagem, a notícia passa mais depressa e vai-se embora num instante. Além disso, pode-se ir lavando a loiça, gritar com os miúdos ou cortar as unhas dos pés.