8.3.06

O menino de sua mãe

Estava na farmácia, bem visível, pedagogicamente presente, comercialmente eficaz, o anúncio à pílula do dia seguinte. A imagem, tema central do cartaz, caricaturada, vista de longe, parecia a do óbvio: um casal, abraçado, ela tendo na mão uma tablete de pastilhas salvadoras de um descuido. Só que eu vejo cada vez pior, o computador e as leituras desenfreadas e mais as compulsivas ajudam a secar-me os olhos, as noites mal dormidas a mirrá-los. Aproximei-me, pois, para descobrir com espanto o que ali estava. Ele era de facto um jovem rapaz, desenhado como se lhe tivessem despontado agora as borbulhas irritantes do nascer da barba e com ela os desejos e os medos, o tipo dos que se metem em sarilhos só por não tomarem precauções, armados em homens quando ainda são uns miúdos. Só que ela, ela, meu Deus!. Desenhada como estava, parecia, não a sua jovem amiga de um momento irreflectido de prazer sexual que deu em fecundação, mas sim, a própria mãmã do rapazinho. Saí da farmácia atordoado, as ideias confusas, a cabeça sem entender nada da mensagem do cartaz. Esta ideia da mãezinha protectora, de pílula na mão, a ensinar ainda ao menino, pertinazmente agarrado às saias domésticas, o bêábá da sexualidade e dos seus riscos e modo de os enfrentar não me entra na cabeça. E, no entanto, ele ali estava, o menino da mamã, avisado para os malefícios do mau uso da pilinha.