A partir de hoje, em todas as linhas de toda a rede de Metro, o telemóvel é audível. Subterrâneo embora, toupeira humana escoada entre túneis e galerias, neste mais depressa e mais rápido demencial em que nos tornámos, o homem, atravancada a superfície da cidade, onde já só se anda devagar, corre-corre pelas suas entranhas, saído, atrasado, da linha azul, perdido, zaranza, na amarela, perguntando, tarata, pela linha verde. Faltava só ser encontrável, pelo chefe, pelo cliente, pela família, pelos amigos. Soterrado, embora, inumado vivo, entalado entre corpos e cheiros, sujeito a um esticão na carteira e a um apalpão nas partes, o homem de hoje, lisboeta e contemporâneo, não tem desculpa para não dizer, conformado, que «está lá», nem que seja para responder ao irónico «por onde andas tu que não te vejo?».