Leio na imprensa, que o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, alertou para a fuga de cérebros europeus para outras regiões do mundo. Ele, que se escapou do país para Bruxelas sabe bem do que fala.
Quando escrevia no «Diário de Notícias» uma coluna que tinha o nome deste blog, e precisamente no momento em que ele hesitava entre ficar a governar-nos em Portugal ou governar-se no estrangeiro, publiquei um artigo a que chamei, em boa terminologista maoista: Durão, o grande salto em frente.
Parecerá imodéstia que o lembre hoje?
«Durão Barroso vive um dos mais cruéis dramas que um homem pode enfrentar: está dividido entre uma lealdade e uma ambição.
A lealdade, essa é ao cargo que desempenha, e foi isso que ele jurou diante do Chefe do Estado, no acto da sua posse: o desempenhar com lealdade as funções que lhe foram confiadas.
A ambição, é face à sua fulgurante carreira política, e foi isso que ele terá jurado a si próprio, no dia em que trocou o desalinho verbal do «radicalismo pequeno burguês de fachada socialista» pela pose composta de estadista de recorte conformista.
O drama tem objecto, o que não se sabe se tem é profundidade.
Em nome da ambição, Barroso aceita a presidência da Comissão; em nome da lealdade, Barroso recusa-a.
Por causa disso, Barroso vive já um grave problema pessoal.
Seguramente que Bruxelas apetece e Lisboa aborrece.
Entre ambas as capitais, a europeia e a portuguesa, não há comparação que resista.
Conviver com os grandes sempre foi melhor que aturar os pequenos. E nesse aspecto Barroso é um «dandy» intelectual.
Além do mais, Barroso sabe o que o futuro lhe traz: de Lisboa por certo sairá sempre mal, de Bruxelas é possível que possa sair-se bem. Portugal está farto dos seus líderes, a Europa anseia liderança.
O que está em dúvida, no momento, é saber se Barroso, líder que é de um partido, pode escolher. Uma fonte desse partido disse à imprensa que o PSD não lhe perdoaria: percebe-se, porquê. Sem ele, o partido, pior do que não ter alternativa de liderança, parece que tem apenas Pedro Santana Lopes para oferecer.
Nesse aspecto, no PS foi mais fácil, porque ali há uma lei dinástica há muito estabelecida: rei que perde, morre, rei que ganha, é morto.
O exemplo recente é, aliás, edificante: na noite da vitória socialista, na mesma em que na nave central se cantavam exéquias ao candidato europeu falecido, na sacristia, já uma tríade de candidatos à liderança afiava facas para o assalto ao poder.
Ora é nestas amarras da política que Durão Barroso se encontra cercado.
Para já, Barroso optou por uma atitude prudente e inteligente: mandou dizer que não é candidato.
A diferença é subtil: não está escrito em sítio algum que para o cargo de Presidente da Comissão não se possa ser eleito sem se ser candidato.
Daí decorre um efeito: Barroso não disse que não aceitaria o cargo, apenas disse que não se candidatava a ele.
O que, em si, implica uma consequência: o máximo da vitória é ser-se eleito para aquilo para que nem sequer nos candidatámos. Se o vierem buscar a casa e o coroarem imperador da Europa, Barroso mais do que eleito, terá sido aclamado.
Claro que vista de Lisboa, da solidão angustiante do seu gabinete na Rua da Imprensa, em certos momentos, a Europa deve parecer-lhe um apetecível refúgio: Durão Barroso se não quer concorrer à Europa, quer é que o tirem de Lisboa. E quanto mais depressa melhor.
Com uma variante: é que se for para Barroso não ir, ao menos ganhe António Vitorino, porque os dois juntos em Lisboa, isso, é demais: pior do que o desapontamento de um, ao não ter ido, é a frustração do outro, ao ter vindo».
A lealdade, essa é ao cargo que desempenha, e foi isso que ele jurou diante do Chefe do Estado, no acto da sua posse: o desempenhar com lealdade as funções que lhe foram confiadas.
A ambição, é face à sua fulgurante carreira política, e foi isso que ele terá jurado a si próprio, no dia em que trocou o desalinho verbal do «radicalismo pequeno burguês de fachada socialista» pela pose composta de estadista de recorte conformista.
O drama tem objecto, o que não se sabe se tem é profundidade.
Em nome da ambição, Barroso aceita a presidência da Comissão; em nome da lealdade, Barroso recusa-a.
Por causa disso, Barroso vive já um grave problema pessoal.
Seguramente que Bruxelas apetece e Lisboa aborrece.
Entre ambas as capitais, a europeia e a portuguesa, não há comparação que resista.
Conviver com os grandes sempre foi melhor que aturar os pequenos. E nesse aspecto Barroso é um «dandy» intelectual.
Além do mais, Barroso sabe o que o futuro lhe traz: de Lisboa por certo sairá sempre mal, de Bruxelas é possível que possa sair-se bem. Portugal está farto dos seus líderes, a Europa anseia liderança.
O que está em dúvida, no momento, é saber se Barroso, líder que é de um partido, pode escolher. Uma fonte desse partido disse à imprensa que o PSD não lhe perdoaria: percebe-se, porquê. Sem ele, o partido, pior do que não ter alternativa de liderança, parece que tem apenas Pedro Santana Lopes para oferecer.
Nesse aspecto, no PS foi mais fácil, porque ali há uma lei dinástica há muito estabelecida: rei que perde, morre, rei que ganha, é morto.
O exemplo recente é, aliás, edificante: na noite da vitória socialista, na mesma em que na nave central se cantavam exéquias ao candidato europeu falecido, na sacristia, já uma tríade de candidatos à liderança afiava facas para o assalto ao poder.
Ora é nestas amarras da política que Durão Barroso se encontra cercado.
Para já, Barroso optou por uma atitude prudente e inteligente: mandou dizer que não é candidato.
A diferença é subtil: não está escrito em sítio algum que para o cargo de Presidente da Comissão não se possa ser eleito sem se ser candidato.
Daí decorre um efeito: Barroso não disse que não aceitaria o cargo, apenas disse que não se candidatava a ele.
O que, em si, implica uma consequência: o máximo da vitória é ser-se eleito para aquilo para que nem sequer nos candidatámos. Se o vierem buscar a casa e o coroarem imperador da Europa, Barroso mais do que eleito, terá sido aclamado.
Claro que vista de Lisboa, da solidão angustiante do seu gabinete na Rua da Imprensa, em certos momentos, a Europa deve parecer-lhe um apetecível refúgio: Durão Barroso se não quer concorrer à Europa, quer é que o tirem de Lisboa. E quanto mais depressa melhor.
Com uma variante: é que se for para Barroso não ir, ao menos ganhe António Vitorino, porque os dois juntos em Lisboa, isso, é demais: pior do que o desapontamento de um, ao não ter ido, é a frustração do outro, ao ter vindo».
Ao reler isto só posso tirar uma conclusão: há quem não goste mesmo de mim, e eu até sei porquê!