5.2.08

A língua de Camões

Quando cheguei a Macau, há vinte anos, nem os polícias na rua falavam português. Estávamos na recta final para entregar Macau à China. Macau era «território chinês, sob administração portuguesa». A partir da Declaração Conjunta admitiu-se, por razões políticas, o bi-linguismo como forma oficial de convivência das duas culturas. Gastaram-se milhões em traduções, no ensino do português, na difusão da literatura de Portugal. Floreseceram fundações, entre elas a Fundação Oriente. O seu presidente, Carlos Monjardino, proclamou agora, segundo o revela a agência Lusa, esta frase redonda: «Em Macau, onde as pessoas estão num contexto de utilização do cantonense (dialecto do sul da China), que têm de aprender mandarim (língua oficial chinesa) e inglês há cada vez menos margem para aprender ainda o português». Esta frase visou explicar que «mesmo não sendo muitos, a Escola Portuguesa tem vindo a perder alunos». Só na escola a Fundação diz ter investido 8,7 milhões de euros.
Aquilo que era presivível, está a suceder, apesar dos discursos de então.
Terra de intriga, havia quem ironicamente chamasse a Macau a zona do bifidismo. Com mais naturalidade se fala o português em África, sem que os portugueses disso se dêm conta, ou nisso gastem um chavo de jeito.