Uma amiga minha veio dar-me conta que há por aí um rapaz que escreveu um artigo sobre o mistério em torno da morte do Leslie Howard e que, citando inclusivamente na narrativa aquilo que é o título de um livro meu sobre o assunto, nem se dignou sequer referi-lo.
Claro que o que eu escrevi custou-me horas a fio de estudo nos Arquivos Britânicos, onde parte essencial do dossier referente ao trágico voo está sujeito à lei do segredo por 75 anos, a entrevistar pessoas que se ligaram aos acontecimentos, a ter comparado os dois livros que o filho e a filha do malogrado actor escreveram, este último lido na Biblioteca da Cinemateca Portuguesa, onde o livro foi apresentado, por palavras gentis do seu Director, o Dr. Bénard da Costa. Mais: dei-me ao trabalho de redigir o guião de uma banda desenhada, cuidando da minúcia dos detalhes de modo a que, quer a narrativa quer a BD, não tivessem erros factuais. Honrou-me o prefácio do professor norte-americano Douglas Wheeler, que estuda desde há anos o assunto. Documentei-me, estudei, trabalhei.
Ao dito rapaz custou apenas o contar agora a historieta e ter a falta de educação de fingir ignorar quem já cá anda há mais tempo e fez trabalho sério.
Não me espanta. Quando trouxe a prova documental de que o fundador do jornal «A Bola» tinha ido parar ao Tarrafal por ser um agente do SOE britânico, vi que numa biografia que foi, entretanto publicada, essa minha revelação sobre Cândido de Oliveira era olimpicamente ignorada.
Não é que eu queira ter direitos de autor e seguramente já cometi muitas indelicadezas ao não citar quem devia; é só porque Portugal é isto, esta miséria de se viver entre a ignorância e o copianço, uma escrita tão mais arrogante quanto é feita, parasitariamente, à conta do alheio.