Nasci em Angola, mas perdi o contacto com aquela minha terra. Os horrores da guerra conheci-os em 1961, por terem começado na Baixa de Cassange e eu morar em Malanje. Lembro-me da chegada dos primeiros caçadores especiais, lembro os belgas em fuga, lembro as primeiras matanças, de um lado e do outro. Talvez tenha sofrido relativamente pouco, apenas o terror, as noites espavoridas, nunca vi a violência diante dos olhos, apenas dentro da cabeça. Cada vez aprendo mais que nunca as nossas dores são tantas quanto as dos que verdadeiramente sofrem. É uma imodéstia do eu julgarmo-nos doridos.
Mas não era sobre isto que queria escrever, sim sobre ter ouvido há uns dias, na rádio, a deputada europeia Ana Gomes a vociferar contra o modo como haviam decorrido as eleições em Angola e ter ouvido, acho que um dia depois, a representante da Eurolândia e mais um pouco toda a gente, incluindo o nosso Presidente da República, a cumprimentar José Eduardo dos Santos pelo exemplo de democracia e de Ana Gomes não ter ouvido mais nada. Ana Gomes tem um blog onde tem escrito agora apenas Vital Moreira. O seu último post foi a cumprimentar Paulo Pedroso, o anterior sobre «a lasca do Alasca». Está aqui. Tudo isto que eu escrevo talvez faça sentido. É de facto triste que faça.