A política é arte da argumentação. Visa o governo da Nação, através do Estado mas mediante a adesão do Povo. Mesmo quando se impõe o mal a uns há outros que aceitam essa imposição que outros rejeitam sofrer. Mesmo quando se sacrifica uma geração presente parte-se do pressuposto do aplauso da geração futura.
Até os ditadores não se livram deste contrato social implícito. Para eles é a Pátria ou o próprio Deus a fonte da aquiescência.
Por se moverem na arte de argumentação e no domínio da retórica os políticos têm de ter cuidado com as palavras. Manuela Ferreira Leite passou um mau bocado quando sugeriu que a democracia se interrompesse para bem do País. E ela teve de se interromper porque o acordo com a troika foi firmado fora da anuência parlamentar e apenas referendado a posteriori indirectamente em eleições. Já a adesão à então CEE aconteceu em tempos como política de facto, puramente governamental, ante um País que imaginava que tal só traria o El Dorado dos subsídios, mesmo à conta do suicídio da mais séria das autonomias, a alimentar.
Voltando às palavras. Sabe-se como um ministro perdeu o seu lugar por causa de uma anedota sobre alentejanos, como outro teve o mesmo destino por via da linguagem gestual de cunho taurino.
Vem isto a propósito de Passos Coelho - que pensa que para se ser ouvido multiplicadamenete se deve falar superlativamente - ter lançado para os ares que os do Governo deram conta de um desvio «colossal» nas contas públicas face àquilo que o anterior Governo apregoava, enquanto que Miguel Frasquilho - mais técnico e por isso mais prudente - teve de vir dizer que o desvio «colossal» era, afinal... um «grande» desvio.
A oposição começou já o batuque em torno da palavra. Já se clama por explicações, idas ao Parlamento, enfim espectáculo político.
E o País que está esfaimado de substantivos vai assistir a mais uma ridícula e essa sim colossal batalha de adjectivos.O primeiro-ministro tem de aprender a ter tento na língua. Já dei comigo a pensar nisso por mais de uma vez. Não é que a minha observação conte. Sou ninguém e não quero ser alguém. É apenas porque, quer no espaço nacional quer na cena internacional, há quem leve as coisas a sério e esteja sobretudo à espera de uma palavra que revele ainda mais o nosso estado comatoso.