À medida que o Verão se aproxima a imprensa começa a aparecer com aquelas histórias de entreter, entre o real e a fantasia. A divulgação científica, naquilo em que se aproxima da ficção científica, é um campo fértil. Esta li eu num intervalo da dardejante canícula, a propósito de um estudo sobre a influência genética no impulso sexual. Segundo a agência Lusa, que se faz eco da notícia: «o estudo conclui que apenas 30% das pessoas tem uma mutação genética que intensifica o apetite sexual, carecendo dela as restantes. Tal mutação seria relativamente nova na história humana, remontando à época do homo sapiens, há cerca de 50.000 anos». Fiquei um pouco confuso, pois isto das datas, das estatísticas e dos números em geral é sempre a demonstração fatal da minha falta de inteligência. Pelo que li e consegui compreender, há 50.000 anos houve aí uma malta que foi passando do «homo sapiens» para o «homo ludens», com as partes baixas a puxar por eles com mais vigor que as alturas cerebrais. No meio disto, naturalmente que a escolátisca, o neo-kantismo e a filosofia analítica da linguagem devem ter ajudado a esfriar os ímpetos dionísicos. A Santa Madre anatemizou-os com a ameaça das fogueiras infernais. Mas a lei da gravitação universal, puxando pelas baixezas humanas é um magneto eterno. O que eu não percebi totalmente é como é que com tanto ano de mutação, porque 50.000 são quase dez mil eus colocados na fita do tempo, ainda só andamos em 30%. A resposta só pode ser huma. Do «homo sapiens» primitivo e indiferenciado, que copulava para reproduzir, surgiu uma minoria lúdica e luxuriante, para quem os genitais são uns brinquedos que Deus lhes deu para alívio e comprazimento. Os outros 70% pertencem à categoria dos que estão a esta hora no trabalho, em reunião, a agenda sobrecarregada, vários telefones ao mesmo tempo, prazos e compromissos, alimentados a sanduíches, incentivados a pastilhas, estimulados a silicone. Daqui a 50.000 tornam-se ovíparos. Geneticamente farão glu-glu!