26.8.06

A insatisfação itinerante

Chega-se, de malas na mãos, ainda turista na própria terra. O ar parece leve, as ruas limpas, tudo sossegado, em pequenino. Amanhã talvez comece o sentimento de exilado, a alteridade, o sentir-se um homem hóspede em casa alheia. Depois, com o passar das semanas, surgirá o desejo de emigrar. É assim esta insatisfação itinerante do português. Sinto-me um deles. Não nasci aqui, mas é aqui que me sinto em casa. Numa rua qualquer de uma longínqua cidade russa, cruzei-me com um desses portugueses errantes, para quem eu, anónimo na multidão, mereci um «ora viva, então por aqui!» esfusiante, como se nos cruzássemos, num sábado de manhã, ao acaso, numa rua de Campo de Ourique. Tinha vindo de mota. Faz-se bem, explicou-me. Muito bem mesmo, calculei, sobretudo para quem tem como limite o canto da Europa e como alternativa o atirar-se ao mar.