12.8.07

Arranjar-se

«Era chic falar em virtude, mas era tolice ser-se virtuoso», escreveu Manuel Laranjeira, a propósito da sociedade em que viveu o escultor Augusto Santo, de que apenas consegui encontrar no Museu Soares dos Reis um bronze representando Ismael. As palavras são duras: «Nesta nossa decadência de povo parasita, condenado a viver de expedientes, era consolador, tragicamente consolador, ver que a arte filha desta nacionalidade a não renegava e a acompanhava na biltre existência de cogumelo social (...). Como ilação fatal deste modo de viver, fervilhava o elogio mútuo, a simbiose da malandragem, a hipocrisia, o mimetismo que garantisse a pilhagem deste magro desfazer de feira. Esse estado psíquico da nossa sociedade tinha a sua expressão nítida numa palavra - arranjar-se». Isto foi assim visto em 1902, num Portugal eterno nas virtudes, perene nos defeitos.