27.12.07

O banco

Estar num banco de Hospital e ver entrar a vida e a morte, agarrados a uma maca, as bocas encovadas por desdentação, ali já num murmúrio de respiração, além no sufoco esganado que os olhos traduzem num grito silencioso de acudam.
Estar num banco de hospital feito consultório de ocasião pelos que se tentam evadir da fila dos condenados do que se chamam, com amável eufesmismo, as listas de espera.
Estar num banco de hospital e ouvir pedir comida e ouvir dizer que ja não há comida.
Estar num banco de hospital, entre os que gritam e os que já nem sabem gritar, no meio, o passarinhar errático do pessoal de bata branca, de bata azul, de bata que já nem tem cor.
Estar num banco de hospital pela noite dentro e à chamada de «médico aos directos», acorrer, como se em passeio público, a medicina rotineira ao encontro do trivial morrer-se, no meio a probabilidade de ainda se cruzarem a tempo.
Estar num banco de hospital, onde se nasce, onde se morre, onde se sente o que é viver por enquanto.